Existem mais de 1500 padeiros e pasteleiros na cidade de Paris. Dos 250 aceites num dos mais cobiçados concursos da cidade, António Teixeira, 50 anos, e o filho, Antony, venceram o primeiro prémio – a melhor baguete de Paris. E conquistaram outro primeiro lugar no ano seguinte. “Assim ninguém acha que foi sorte de principiante. Vencer a segunda vez um concurso tão exigente é a confirmação e a notoriedade.” O equivalente, imagine-se, seria um alemão residente no Alentejo ganhar o concurso de melhores migas ou um sueco fazer o melhor pastel de Belém de Portugal.
Para António Teixeira, esta circunstância não tem nada de estranhar. “Sei que há muitos portugueses que se metem a fazer em França confeções típicas de Portugal. Mas não são as melhores. É preciso ser-se especialista. Eu não faço experiências, formei-me aqui, aprendi a fazer melhores baguetes do que qualquer francês.”
António Teixeira chegou a França vindo de Fafe, aos sete anos, com os pais – ela empregada de limpezas e ele abastecedor de comida da Air France. Não viram com bons olhos a inclinação do filho para as artes de cozinha – “achavam que era profissão de senhora”.
Em 1993 abriu o seu estabelecimento, sozinho com a mulher. Chamou-lhe Aux Délices du Palais. Quatro anos depois já eram 12 empregados. E depois vieram os prémios. Hoje, a sua padaria/pastelaria tem 18 empregados, na sua maioria franceses. Passam-lhe, em média, 800 mil clientes por dia e fatura cerca de um milhão de euros por ano.
Quando era mais novo, dirigia-se às cozinhas do Palácio do Eliseu para fornecer o seu pão e croissants. Por várias vezes se deparava com o então presidente Jacques Chirac a passear por ali, a fazer perguntas aos cozinheiros e a destapar os tachos. Um dia deu-lhe um grande elogio: “Bravô, garçon! Tu és um exemplo da boa integração da comunidade portuguesa”.
O seu segredo é não ter segredo. Usa os melhores ingredientes, tem “o saber nas mãos” e trata muito bem os empregados – ” e atenção”, ressalva, “que eu sou de direita”. Tem 5 empregados que têm 22 anos de casa. “E isso diz muito. Eu respeito-os e eles respeitam-me. Quanto mais ganho, mais ganha o empregado.”
Planeia abrir, provavelmente ainda este ano, uma pastelaria em Albufeira para servir os franceses que aí residem “e gostam de comer a sua baguete e o seu croissant francês, o seu mil folhas”. Um bom pasteleiro em França pode ganhar 2 mil euros por mês e António acha justo. “O grande problema de Portugal é os salários serem baixos, os melhores empregados desistem, os outros desmotivam.” E garante que pagaria o mesmo ordenado em Portugal.
Os filhos (o mais velho é padeiro e o segundo pasteleiro) já lhe seguem as pisadas e um deles, Cristian, já ganhou o quarto lugar no concurso de macaron, o célebre bolinho topo de gama – um dos mais difíceis de toda a França. Na sua pastelaria tem 22 sabores de macaron.
Agora, durante o Euro, tem uma bandeira portuguesa de dois metros pendurada à porta de casa. Só lamenta que o medo e o estado de emergência não permitam festejos. “Antigamente, durante os jogos, púnhamos uma banquinha à porta com cervejas, agora nada é permitido.”
Os atentados não o forçaram a fechar o estabelecimento mas afetaram-lhe negócio: “Estamos em guerra, os franceses compram agora mais pão do que bolos”. Comprou bilhete para o Portugal-Islândia, mas já nada é a mesma coisa. Tem de se ir para o estádio com mais quatro horas de antecedência, os adeptos são revistados de alto a baixo, “e nem uma sanduiche podemos levar nas mãos”.