Trabalho de equipa, sincronia, velocidade e precisão. Com estas ideias na cabeça, a médica Rachel Hayward, da unidade neonatal de cuidados intensivos do Hospital Universitário do País de Gales, pegou no telefone e marcou o número da Williams, uma das equipas mais antigas da Fórmula 1.
Ao explicar que as técnicas usadas nas boxes podiam ajudar a reanimar recém-nascidos em risco de vida, a resposta foi óbvia: “Nós mudamos pneus de carros e vocês salvam vidas. Não estamos a ver a analogia”. Rachel Hayward já esperava a reação e contrapôs: “Se o vosso mecânico não colocar o parafuso na roda corretamente, o vosso piloto pode perder a vida na primeira curva. Se nós cometemos algum erro no processo de reanimação, perdemos o bebé”.
Captada a atenção da escuderia britânica de F1, a Williams aceitou passar os seus conhecimentos à equipa médica e, ao fim de um ano de parceria, uma reportagem da Sky News deu a conhecer esta improvável ligação.
“Reanimar um recém-nascido no momento do parto é algo urgente. Requer uma intervenção efetiva e eficaz. Qualquer demora nos cuidados a prestar pode custar a sobrevivência do bebé ou provocar complicações de longo prazo”, explicou a responsável clínica à estação televisiva, para dar conta dos momentos de pressão a que estão sujeitos e a importância de saber lidar com a situação. Como numa mudança de pneus na F1.
“Em analogia com os requisitos para uma paragem eficaz nas boxes, trabalhámos em conjunto com a Williams para introduzir as técnicas da Fórmula 1 de modo a melhorar a nossa resposta na reanimação neonatal”, assinalou.
A sala de cuidados intensivos para recém-nascidos ganhou traços de box de carros de corrida. E não foram apenas os riscos que passaram a estar marcados no chão, para que cada elemento da equipa de Rachel Hayward saiba que terrenos pisar para melhor cumprir a sua tarefa. O carrinho dos instrumentos clínicos foi organizado de forma a facilitar a memorização do lugar de cada um deles, a linguagem gestual ganhou predominância sobre a verbal e o recurso a imagens vídeo para analisar a operação a posteriori será o próximo passo.
“Toda a gente tem uma tarefa a cumprir e esta é a via a seguir”, sublinhou a enfermeira chefe, Louise Cleaton, sobre a nova realidade na unidade em que trabalha. “Não estamos à procura de bater recordes de tempo, o objetivo é ter eficiência com menos stresse porque um bebé é um ser delicado e temos de o tratar com cuidado”.
Da parte da Williams, a diretora da equipa diz-se “encantada” por poderem ajudar. “A pressão com que eles trabalham é difícil de compreender. É uma questão de vida ou morte todos os dias da semana e, se os conselhos que damos ajudarem a salvar uma vida, terá valido extremamente a pena”, afirmou Claire Williams.