Ando a treinar intensamente. É um momento em que temos de sofrer muito, faz parte da nossa preparação. Puxamos muito pelo nosso corpo, é perigoso também. Nesta reta final, acho que não há atleta que, se estiver bem de saúde, não esteja motivado para os Jogos Olímpicos. Eu não fujo à regra.
Brevemente vou estagiar para Tenerife. Temos de sair daqui para encontrar um pouco de paz e estar mais coesos na nossa preparação. Vamos para um sítio quente para nos irmos adaptando à temperatura do Brasil. Depois iniciarei as minhas competições de preparação para os Jogos Olímpicos e mesmo antes da prova devo ir fazer o último estágio de adaptação horária para São Paulo.
Sou resiliente porque adoro o que faço. É uma paixão desde criança fazer o triplo salto ou o salto em comprimento. Sempre tive a oportunidade e a sorte de poder escolher fazer aquilo que gosto. Os meus pais deram-me essa liberdade de escolha e o meu treinador, João Ganço, puxou muito por mim, tanto pela parte física como pela intelectual. A minha formação até ser um atleta de topo foi de excelência, por isso cheguei mais bem preparado.
A minha vida pessoal e profissional já é gerida há 25 anos, acaba por ser uma forma de estar. Quando vou treinar é o meu trabalho, as pessoas sabem que estou incontactável e não tenho hora para sair. Algum tempo depois, quando dou sinais de vida, já posso preocupar-me mais com a parte privada.
Em Portugal não são dadas as condições ideais para um atleta de topo poder estudar. Existem por lei, mas não são postas em prática. A solução passaria, por exemplo, por um tutor, que faria a ponte entre a vida estudantil e a vida de atleta. Há imensos estágios por ano, as provas são quase sempre no estrangeiro em dias úteis, se não houver uma pessoa que faça a ligação entre a escola e a pista, que sensibilize os professores e a faculdade, ninguém nos vai entender.
Com a crise as pessoas tiveram necessidade de fugir às mensalidades dos ginásios. Para se estar em forma e fazer exercício não é preciso muito. Basta um bom fato de treino, bom calçado e vontade para correr. Quem não corre não entende a razão desta moda mas é algo tão simples e que faz tão bem.
Depoimento recolhido por Sónia Calheiros