A medicina continua a evoluir e vai encontrando pelo caminho novos aliados para combater doenças como a tuberculose, a epilepsia e o cancro. Todos os dias surgem milhares de novos casos destas patologias em todo o mundo. Em nada estão relacionadas, exceto que, se diagnosticadas a tempo e com o apoio necessário, podem ser controladas ou até mesmo curadas. Experiências levadas a cabo pela Universidade de Maputo, Califórnia e por organizações independentes mostram que os pombos, os ratos e os cães podem ser o futuro na ajuda aos humanos.
![mouse-7.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/8209542mouse-7.jpg)
Photographer: Sascha Burkard
De “ratos de laboratório” para “ratos heróis”
As capacidades roedoras dos ratos são conhecidas de todos, não fosse este o animal que “roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia”, a repetição de sons que aprendemos quando falamos de aliterações na escola. O rótulo de roedor estará sempre associado ao pequeno mamífero, assim como todas as doenças que se diz que transmite. Mas o rato não é um animal dispensável. As suas qualidades são uma mais-valia sobretudo na deteção de uma doença em particular: a tuberculose.
O ser humano possui entre 100 a 200 recetores olfativos, o rato tem 1000 tipos diferentes desses recetores, ou seja, não só tem bons dentes como também um bom nariz. Quem o descobriu foi a organização belga Apopo, criada por Bart Weetjens que deu uma nova relevância a este animal. Para eles, são “ratos heróis” que têm ajudado a salvar milhares de vidas em África. Com um laboratório na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, estão a ser treinados desde o primeiro mês de vida para cheirar amostras de muco humano e detetar o odor do TNT, bactéria causadora da tuberculose.
O processo é acessível e não precisa de equipamentos sofisticados (o que é ideal para países do terceiro mundo): o rato cheira centenas de amostras em 20 minutos (são 20 vezes mais rápidos que as pessoas) e quando descobre o odor que está programado para identificar esfrega as patas, o sinal que foi treinado para dar. O sucesso é tal que desde 2013, os “ratos heróis” foram responsáveis pela descoberta de 1182 casos de tuberculose em Moçambique, Tanzânia, Camboja, Vietname e Laos, países onde o projeto foi implementado.
![Pigeons Trained To Spot Cancer.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/8209545Pigeons-Trained-To-Spot-Cancer.jpg)
Univ. Iowa/ Wassermann Lab
Combate ao cancro da mama tem um novo aliado
Espalhados pelas praças e ruas do nosso país, os pombos são vistos no geral como aves imundas e portadoras de doenças, mas também eles são negligenciados em relação às suas habilidades para ajudar na medicina humana, nomeadamente no combate à doença que mais mata no Mundo: o cancro, neste caso, o cancro mamário.
O professor Richard Levenson é o responsável por uma experiência científica da Universidade da Califórnia que chegou à conclusão de que os pombos são capazes de identificar tão bem como os humanos casos de cancro da mama através da análise de mamografias. Como? A explicação tem um fundamento comprovado cientificamente. O pombo é uma ave com uma memória fotográfica impressionante, daí ser capaz de identificar tecidos malignos (ou benignos) ao olhar para as imagens radiográficas.
Este teste levou duas semanas de treino e obteve resultados satisfatórios: “É uma tarefa complicada para os humanos, muitas das vezes. Esta experiência só indicou que os pombos podem ser ajudantes fiéis para compensar as nossas forças e também fraquezas na análise de imagens médicas”, explicou Levenson na publicação de medicina norte-americana PLos One, onde o estudo foi publicado. Mediante a apresentação das mamografias, as aves são incitadas a apontar para um botão amarelo ou um azul, o primeiro para o caso de haver alteração de tecidos mamários, o segundo que indica que não há sinais de tumores malignos.
![cao-husky-siberiano.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/8209547cao-husky-siberiano.jpg)
Uma nova esperança para quem sofre de epilepsia
Os cães já são utilizados como cães-guia e cães de terapia pelas suas capacidades em lidar com as dificuldades humanas de forma muito paciente. Agora, o treino de cães atingiu um outro patamar. Está comprovado a partir de observações práticas que os nossos amigos de quatro patas têm a habilidade de detetar quando uma pessoa epilética está prestes a ter uma convulsão. Ainda não há explicação científica sobre como é que o animal é capaz de se aperceber com antecedência que isso está prestes a acontecer, embora se acredite que está relacionado com algum tipo de indicador no olfato ou na audição. A verdade é que há casos em que o aviso foi dado pelo cão minutos ou mesmo horas antes de um episódio se verificar.
A Canine Seizure Assist Society (Sociedade de Assistência Canina a Convulsões) existe desde 1996 na Carolina do Norte, Estados Unidos, e num ou outro país já existem réplicas desse projeto, como a Support Dogs no Reino Unido que já tem uma secção especial para treinamento de deteção de convulsões. Ao contrário do que sucede com os cães-guia e cães de terapia, que são normalmente de raça Retriever – labradores e goldens – por ser considerada mais propícia e indicada àquele tipo de aprendizagem, os cães que alertam para convulsões não têm uma raça, idade ou género específicos. Pode ser qualquer um, desde que tenha especial capacidade para a alerta dos pormenores mais ínfimos.
A Universidade de Flórida dedicou-se a este tema e fez uma análise estatística com resultados interessantes: num estudo com 29 cães de pessoas com epilepsia, nove ficaram com os donos após os episódios de maior agitação e três deles alertaram o doente de alguma forma minutos antes do ataque ocorrer. O alerta manifesta-se de diferentes formas, consoante o animal. O mais comum é tocarem no corpo do dono consecutivamente, como se pedissem algo, mas também mostram sinais de ansiedade como ladrar freneticamente. Para os portadores da doença, ter um animal com esta capacidade pode constituir uma segunda oportunidade na vida. O alerta antecipado dá tempo para que os epiléticos se preparem e tomem medidas antes de se dar o ataque, o que lhes confere mais liberdade e independência.