Perdida no meio do Atlântico Norte, mais perto dos Estados Unidos do que do Continente, fica a mais pequena ilha do arquipélago dos Açores, o Corvo. Em virtude da sua posição geográfica, origem vulcânica e topografia, não só detém uma beleza rara, como também possui um temperamento singular, pois esta ilha teima em esconder a sua grandiosidade com um manto de brumas que dela emana e nela habita. Mas quando os ventos e a pressão atmosférica se combinam de forma perfeita, o manto abre-se lentamente, incendiando a cratera vulcânica, o Caldeirão, com matizes cor de fogo e de verde luxuriante, particularmente ao pôr-do-sol. É nesse instante que todo o planeamento, conhecimento e persistência compensam, permitindo criar fotografias de um dos locais mais incríveis do mundo, onde o silêncio ainda se pode escutar e sentir através das mil palavras não declamadas por uma imagem.
E assim, numa intensa batalha entre o fotógrafo e a luz efémera, havia chegado a hora de pousar a câmara no tripé, para garantir a máxima estabilidade, evitando uma imagem tremida durante os longos tempos de exposição impostos pela luminosidade escassa, pelas pequenas aberturas do diafragma e pela baixa sensibilidade ISO. Depois de focar manualmente no local desejado, quase sempre a cerca de 1m, para garantir que, a f/16 e a 16 mm, existia uma profundidade de campo suficiente entre o primeiro plano e o infinito, era preciso aferir, a cada nova fotografia, se o tempo de exposição era o ideal, para assim preservar o máximo de informação nas baixas e nas altas luzes.
Contudo, tão ou mais importante do que os aspectos funcionais da câmara são os detalhes relacionados com a composição. Onde colocar o elemento humano no primeiro plano? Para onde é que este último deve estar orientado e qual a proporção ideal deste face à dimensão da cratera? Será que a cor da sua roupa contrasta ou não face aos verdes e amarelos da vegetação? Que espaço reservar para o solo e para o céu, para que exista uma harmonia entre estes dois elementos? Será que seria possível criar linhas ópticas entre o motivo e os elementos no plano de fundo para, em parceria com os jogos de luz e sombra, reforçar a sensação de tridimensionalidade?
O vídeo seguinte mostra diferentes hipóteses de composição num mesmo local, o Caldeirão do Corvo, comprovando como diferentes tipos de luz e conjugações entre motivos/elementos produzem composições distintas, transmitindo mensagens e sentimentos diferentes ao observador. Adicionalmente, o vídeo mostra uma gravação aérea inédita do caldeirão do Corvo, tocando as nuvens no exacto momento em que a magia da luz se começava a sentir e que a câmara fotográfica começou a imortalizar um momento de luz único.
* O autor deste artigo, Joel Santos, é o autor do best-seller ‘FOTOgrafia’, sendo que terá nas livrarias, já partir do dia 29 de Agosto, o seu novo livro ‘FOTOcomposição – Princípios, Técnicas e Inspiração para criar fotografias únicas’, uma obra incontornável para quem deseja criar imagens inesquecíveis.