Esta é a disciplina do ensino secundário na qual os resultados dos exames são piores. Nenhuma outra apresenta dados negativos tão constantes: nos últimos sete anos, apenas em 2011 a média dos exames foi positiva (52 pontos, em 100).
“As médias são muito baixas porque os responsáveis pelos exames assim o querem. Não houve, até hoje, vontade de mudar”, acusa João Paulo Leal, 51 anos, da Sociedade Portuguesa de Química. Representante desta sociedade científica junto do Instituto de Avaliação Educativa, a entidade responsável pela produção dos exames nacionais, João Paulo Leal suspeita de que haja “uma vontade deliberada de afastar os alunos desta área de ensino”. E, nota, no 12.º ano, quando a disciplina deixa de ser obrigatória nos currículos dos cursos científicos, “o número de turmas de Física e Química passou para metade”. Para o investigador do Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares do Instituto Superior Técnico, o conhecimento que há no IAVE dos resultados das provas, após quase uma década de exames, permitiria “fazer uma prova tão difícil como é habitual mas com resultados positivos”. Bastaria, para tal, mudar os critérios de avaliação, a composição da prova ou o peso que é atribuído a cada grupo temático.
Teresa Peña, 55 anos, presidente da Sociedade Portuguesa de Física, defende que os maus resultados da disciplina se devem, em parte, à sua dificuldade intrínseca. “É uma ciência contraintuitiva “, nota. Numa coisa, os dois cientistas estão de acordo: o programa atual da disciplina é inadequado. “O programa que deu origem a estes resultados aposta no ensino pelo exemplo. Por isso, os temas core da Física estão dispersos pelo programa, tornando a compreensão dos princípios mais difícil”, observa. João Paulo Leal também discorda do modo como os temas estão organizados. “O programa tenta contextualizar o ensino da Química e acaba por dar mais importância ao contexto.” Por causa disso, diz, há uma grande dispersão dos temas. Carlos Fiolhais, 58 anos, professor de Física na Universidade de Coimbra, e um dos autores do novo programa da disciplina para o secundário, afirma ter feito um esforço para reorganizar os temas, acabando com o ensino pelo contexto. “Dissemos aos professores para escolherem os exemplos que quisessem.”