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Christiane tinha-nos deixado a imaginar um jardim idílico, protegido dos males do mundo, nas últimas linhas do best seller Os Filhos da Droga. Um final de história suficientemente aberto para admitir esperança. Tratamentos de desintoxicação e a mudança para casa de uma avó apontavam uma nova vida à adolescente de Berlim. E até assim foi, mas por pouco tempo.
O livro, publicado pela primeira vez em 1978, com o título original Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Nós, as Crianças da Estação Zoo), granjeou-lhe fama. E dinheiro. Mas a droga nunca a abandonaria – não completamente. Lido o livro ou vista a sua adaptação ao cinema, é fácil imaginar o que isso significou. Mais difícil é responder à pergunta da própria Christiane F. no novo livro, A Minha Segunda Vida, agora pré-publicado pela mesma revista que a tornou famosa, a Stern: “Quem diria que eu ia chegar aos 51 anos?” A destruição provocada pela heroína numa menina de 13 anos e nos seus amigos – todos mortos, à exceção de um ex-namorado que deixou de consumir – justifica a expectativa de final trágico. Mas, Christiane Felscherinau, nascida na cidade alemã de Hamburgo, foi sempre diferente.
Snifar para aguentar
A pré-publicação, na edição de setembro da Stern, conta a história que ficou por saber, depois dos primeiros artigos. Na altura, Christiane preferiu o anonimato. Pedido pela própria e respeitado pela revista que, no final dos anos 70, decidiu publicar a sua história de vida em vários números, depois dos contactos com as editoras terem resultado num “isto não é publicável”.
Mas o testemunho que denunciou a destruição de uma geração pelo consumo de heroína, não só acabou por ser editado em livro, como foi traduzido em mais de 20 países, incluindo os EUA, de onde viria a proposta de adaptação ao cinema. Christiane nunca mais teria de prostituir-se para comprar a sua dose diária – vive, até hoje, dos direitos do livro e do filme.
A fama daria entrada a outros protagonistas. E outras drogas. Para divulgar o filme de Bernd Eichinger, aos 20 anos, voa para Los Angeles, em primeira classe, e é transportada numa limusina. Como alguns dos mais famosos que acabaria por conhecer: ACDC, Van Halen, Billy Idol ou Nina Hagen. É numa festa privada dos ACDC que experimenta cocaína pela primeira vez. Ainda se lembra da força e energia que lhe deu. “Antes de voltar à heroína, ‘snifava’ duas a três gramas por dia. É muito, mas ajudou-me a aguentar os talkshows e entrevistas.”
O fim da esperança
No novo livro, Christiane conta como a fama de 99 Luftbaloons também passaria por ela, ao referir a música de Nena como uma das suas favoritas nos programas de rádio e televisão onde ia como convidada. Eram muitos e significaram uma grande pressão sobre uma miúda – vivida, é certo, mas mesmo assim, miúda. Tornou-se numa figura exótica, apetecível em festas como as dadas por um casal suíço que recebia Federico Fellini ou Patrick Süskind.
Descrita como inteligente e corajosa, nunca conseguiu libertar-se das memórias de agressividade do pai ou da solidão da adolescência. Viciou-se na transgressão e em tudo o que vem com ela. Depois de trocar a heroína por cocaína, nos EUA, no início da década de 1980, será apresentada ao ecstasy, que então ainda era legal.
Entre os consumos e as paragens, consegue acabar um curso de livreira. Na autobiografia que será lançada na Alemanha a 10 de outubro, Christiane garante que acordava para alimentar o bebé, que teve aos 33 anos, e que se sentiu “a pessoa mais feliz do mundo” quando o viu olhar para ela pela primeira vez. Depois do nascimento desse filho, hoje com 17 anos, “finalmente, tudo fazia sentido”.
Não deixando claro porquê, a verdade é que o menino lhe seria retirado alguns anos mais tarde. Ainda tentou fugir com ele para outra cidade. Mas, agora, diz-se em paz com as visitas semanais que se encontra autorizada a fazer-lhe. Está melhor assim, admite no livro. Christiane foi infetada com o pior tipo de Hepatite C e está integrada num programa de metadona.
Apesar de todo o mal que fez a si própria, continua a ter esperança. No futuro. E na compreensão do que significa ser um viciado: “Os drogados identificam-se uns aos outros. Talvez porque vivemos num mundo que os outros não compreendem. Ou somos nós que não compreendemos os outros. Ou as duas coisas.”
No editorial, Dominik Wichmann, chefe de redação da Stern, admite que a história da junkie de Berlim voltou a comovê-lo. “Talvez porque Christiane F. seja parte da nossa juventude, parte de nós.” Talvez
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