Desde o verão passado que o sr. Faustino, dono do restaurante-marisqueira com o seu nome, em Oeiras, ouve cada vez mais clientes a pedirem uma caixa com o que sobrou na mesa, seja filetes com arroz malandrinho ou carne assada, seja cozido à portuguesa. “As pessoas comem menos e dividem mais”, nota. “Além disso, perderam a vergonha.
“Os restos das doses que, em outros tempos, se destinavam, alegadamente, aos animais de estimação (daí a expressão doggy bag, cunhada pelos americanos) são cada vez mais assumidos como “a refeição seguinte”.
Há dois meses, Faustino começou mesmo a cobrar entre 18 e 35 cêntimos por cada caixa de alumínio, porque a despesa extra já começava a ficar grande. O reverso da medalha é que as sobras escasseiam para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que ali as recolhe diariamente. “Muitas vezes, faço comida a mais para conseguir doar alguma coisa”, conta.
A situação repete-se noutros restaurantes. Nos três alentejanos Zé Varunca, de porta aberta na Parede, Oeiras e Lisboa, os comensais também dividem cada vez mais as doses (que se mantêm generosas) e muitos não se inibem de pedir as sobras. “Agora, até a sobremesa querem levar”, sublinha o responsável pela casa de Oeiras, Ruben Sousa.
Nada que surpreenda Raquel Ribeiro, professora de Sociologia do Consumo, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa: “Estamos de novo numa sociedade muito ‘consciente da comida’, em que coexistem a necessidade e um estilo de vida mais contido.”
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