Há decerto lugares mais simpáticos para a atividade física e ações de promoção da saúde, mas nenhum seria um desafio tão grande para um trabalho académico como uma prisão. A pensar no bem-estar dos reclusos, estudantes do curso de Educação Física e Desporto, do Instituto Superior Dom Afonso III, em Loulé, delinearam o projeto, pediram patrocínios, solicitaram as devidas autorizações. Organizar um evento desportivo numa prisão não é fácil – mas nada demoveu Joana Ribeiro, 19 anos, Miriam Rodrigues, 30, e João Gonçalves, 22. Não quebraram nem perante a chuva inesperada, que obrigou a um ajuste de planos, em cima do acontecimento.
Chegaram à porta da cadeia de Faro logo de manhãzinha. Seguiu-se um dia cheio: da moderna máquina de remo ao tradicional braço de ferro, passando pelo body pump e pelo body combat, poucos resistiram a entrar no jogo. Primeiro, no corredor livre entre as celas, o único sítio abrigado para instalar os equipamentos; depois, no pátio ao ar livre, quando o sol apareceu.
“Só assim se aprende como preparar uma coisa destas”, diz Nuno Feijão, 38 anos, o professor de Organização e Animação Desportiva, que, desde há oito anos, desafia os seus alunos, em nome do ideal de que ensinar também é transmitir valores e passar uma mensagem de solidariedade.
Os jovens, esses, responderam com o maior entusiasmo. Em nenhum instante cederam ao nervosismo ou ao cansaço, em minuto algum baixaram os braços. Carregaram os equipamentos, contabilizaram os tempos das provas de competição e bateram palmas, quando o momento o pedia. Com o mesmo ânimo, prepararam as sanduíches e os sumos do lanche-convívio.
Os reclusos corresponderam em pleno às suas expectativas. Participaram em todas as atividades, fizeram entrevistas, até escreveram poemas. À despedida, via-se que estavam suados, sujos, cansados – mas felizes.
“Quando se consegue arrancar sorrisos assim, é sinal de um enorme sucesso”, diria Nuno Feijão, ao felicitar a equipa pelo trabalho realizado. Os alunos não escondiam o orgulho por terem passado no teste – e, no final, fizeram questão de também dar uma medalha ao professor. “Sem ele, não teríamos estado aqui.” O corolário de um plano de trabalho orientado por uma frase inspiradora de Che Guevara: “Sonha e serás livre de espírito; luta e serás livre na vida.” Porque ali há homens atrás das grades, mas não de mãos atadas.