Uns esperam religiosamente pela hora certa. Outros, sem deixar o que estão a fazer, arrebitam a orelha. Outros ainda, impossibilitados de ouvir, sabem as novidades mergulhando no habitual burburinho que se segue a um dia de trabalho, ao final da tarde, entre a praça e os cafés.
Se Castelo de Paiva quase para às seis da tarde de cada dia útil é por causa de um homem e uma rádio: Emanuel Damas, 37 anos, jornalista da Paivense FM. Porquê tanto alarido? O slogan da emissora local explica: “Não silenciamos opiniões, não ocultamos notícias.”
Investigações sobre obras ilegais, perseguições políticas, negócios pouco claros, arbitrariedades e abusos de poder à sombra da causa pública, tiveram sempre via aberta nos microfones da Paivense. Sem tabus, com escrutínio. Mesmo num meio pequeno, Emanuel Damas prefere viver à altura dos valores da profissão ao invés de passar a vida a proclamá-los. A postura recebe incentivos diários nas ruas, mas também lhe traz o virar de cara de um amigo, ameaças e até tentativas de atropelamento. “Normal. Mas não sou herói nem me sinto pressionado. É preciso paciência e cara levantada. Não faço perseguições, dou notícias”, justifica.
A rádio e a credibilidade da sua informação sobreviveram a uma gestão danosa e à falência da anterior cooperativa. Emanuel também, mesmo não lhe tendo sido pagos dois anos de salários. Hoje, a nova Paivense (99.5 FM) ouve-se muito para lá das fronteiras do concelho. E na net, através da qual chegam mensagens, da Nova Zelândia ao Luxemburgo. Se, a meio do noticiário das seis, começarem a pingar telefonemas na rádio, já se sabe que alguma coisa… abanou. Talvez por isso lhe chamem agora “a Al Jazeera de Castelo de Paiva”.