Após uma manhã que começou com uma sessão na Voz do Operário, em Lisboa, onde defendeu que o presidente da República tem de se bater por uma nova lei da habitação para responder a quem precisa de uma casa condigna, João Ferreira seguiu rumo ao El Corte Inglés, ao início da tarde, para ouvir quem manteve as rotinas de trabalho mesmo em confinamento.
Porém, antes da chegada do candidato presidencial – que dos sete na corrida a Belém é o que mais invoca a Constituição no terreno -, já o chefe de segurança daquele espaço comercial se mostrava frenético.
Em causa, o aparato mediático em redor dos funcionários – que na sua hora de almoço – aguardavam pelo comunista, para lhe explicarem a dor de cabeça que será não terem resposta para o fecho dos centros de estudos e os de atividades de tempos livres (ATL) privados. Até porque, no dia 15, muitos já não tiveram outra solução se não faltar para ficar com os filhos.
“Na sexta-feira, muitos tiveram de pôr férias ou optaram pela falta justificada. Se não, a alternativa será aquela que nem as autoridades de saúde querem, que é ter os avós a irem buscar os netos às escolas porque os pais ainda estão trabalhar a essa hora”, disse, à VISÃO, Susana Canato, funcionária daquele espaço.
À chegada, João Ferreira já vinha com a lição estudada, porque não precisou de ouvir mais do que duas frases da representante sindical, Célia Lopes, sobre aquela concentração. “Tudo isto diz muito daquele que jurou defender cumprir e fazer cumprir a Constituição. Uma Constituição que diz que os trabalhadores têm de ser respeitados”, frisou o candidato, duas vezes, na mesma declaração em menos de dois minutos, onde também frisou que a “Constituição estabelece condições, horários dignos e condições que permitam compatibilizar a vida profissional com a vida familiar, e o que temos é o contrário”.
“Há um problema que vem antes da pandemia, que é o de os trabalhadores compatibilizarem as suas vidas profissionais com as suas vidas familiares. Houve legislação laboral promulgada pelo atual presidente da República, que serviu para desregular os horários de muitos trabalhadores e com isso a vida de muitas famílias”, assegurou o eurodeputado comunista, que, questionado pela VISÃO sobre a solução para o fecho dos ATL, apelou a que seja “ponderado neste momento de confinamento, para os que estão a trabalhar presencialmente e em teletrabalho, e no que toca aos cuidados de crianças, a criação de condições, porque os trabalhadores não podem levar as crianças para o seu local de trabalho”.
Mas João Ferreira não disse que condições seriam essas – sendo que os estabelecimentos que estão fechados são os do setor privado.
Dito isto, o candidato virou as costas e os trabalhadores reentraram. A primeira do grupo, Sara Brás, foi logo travada. Quem momentos antes ouvira que a Constituição conta com a solução para todos os problemas ali expostos, acabou a ter de responder aos seguranças, que de rajada exigiram saber em que serviço trabalhava, qual o piso, o que estava a fazer no meio do grupo e o que tinha acabado de dizer a João Ferreira.
Mais tarde, o chefe de segurança, a quem a VISÃO viu de forma agitada dar indicações aos seguranças sobre como reagir com o aparato mediático, terá lamentado o sucedido quando confrontado pela trabalhadora, avançou fonte sindical, que aguarda que o El Corte Inglés, na segunda-feira, assegure que não haverá quaisquer represálias.
João Ferreira seguiria depois para Santo António dos Cavaleiros, para um encontro com representantes do movimento associativo do concelho de Loures, que felicitou pelo “exemplo notável” de se substituírem muitas vezes ao Estado na “atribuição constitucional” do acesso à cultura, ao desporto e à educação. Este domingo não terminaria sem antes, lá está, distribuir miniaturas da Constituição aos jovens que compareceram no Mercado do Forno do Tijolo, em Lisboa.