Às tantas o cenário do debate entre os candidatos às presidenciais de 2021 Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva podia ter saltado do estúdio da RTP3 para o auditório do Infarmed que ninguém teria dado por nada. A saúde quase monopolizou a conversa entre o representante da Iniciativa Liberal e o do RIR (Reagir Incluir Reciclar), não fosse Vitorino Silva ter trazido para cima da mesa a TAP agarrada à dicotomia do privado/público nos setores essenciais, quando apenas faltavam cinco minutos para o debate terminar.
A gestão da pandemia, a probabilidade forte de um novo confinamento e as eleições em estado de emergência tomaram conta da primeira parte da conversa em que Tino de Rans, como é conhecido Vitorino Silva, ofereceu tempo ao ser “adversário” para que este expusesse a sua proposta para o sistema de saúde português.
Estes foram os principais momentos do debate:
Confinamento 2.0
Tiago Mayan Gonçalves:
“Eu questiono-me se o facto de termos determinado estes confinamentos de meios fins de semana também não contribuiu para os números que temos hoje em dia.”
“O Governo perdeu o rasto a 80% das cadeias de contágio.”
Contexto: No dia em que Portugal bateu um novo recorde de novos casos e de mortes por causa da Covid-19, a possibilidade de um novo confinamento ocupou grande parte dos noticiários. A intenção do regresso às medidas mais duras foi confirmada pelo ministro da Economia à saída de uma reunião entre o Governo e os parceiros sociais. No debate, Tiago Mayan repetiu que “o país não aguenta um novo confinamento generalizado”, defendendo que grande parte da responsabilidade pela atual situação epidemiológica portuguesa é do Executivo.
Adiar as eleições?
Vitorino Silva:
“Se o país fechar também têm de fechar os políticos. Se o país fechar eu também vou para casa”.
“O nosso povo não pode morrer. Não há milagres.”
Contexto: Questionado sobre se concorda com a manutenção da data das presidências, a 24 de janeiro, Tino, que não se opõe à necessidade de um novo confinamento, diz que os políticos deveriam seguir as mesmas regras. O calceteiro de Rans mostrou-se ainda preocupado com aqueles que não poderão ir votar, como alguns utentes de lares, por não ter sida encontrada uma alternativa, lembrando que, no dia 7 de outubro de 2020, levou esta situação para uma audiência com Marcelo Rebelo de Sousa.
SNS e os privados
Tiago Mayan Gonçalves:
“Eu não tenho preconceito nenhum com a existência de hospitais públicos. É evidente que a oferta de saúde do SNS é estruturante no país que temos, mas isto não significa que tenhamos de eliminar todo um setor que podia estar a dar resposta, desde março, e que não estava por preconceitos ideológicos do Governo.”
“O que o sistema atual está a garantir para a maior parte das pessoas não é o acesso à saúde. É o acesso a listas de espera.”
Contexto: O candidato liberal defendeu que o número de mortes não Covid em países que exploraram mais a parceria com os privados foi inferior ao português. E que os privados deveriam ser uma solução – não só agora, mas sempre – para melhorar a resposta dos cuidados de saúde. Tiago Mayan propõe um sistema em que cada cidadão, que precisasse de ser operado, por exemplo aos olhos, recebesse um cheque de cirurgia, pago pelo Estado, mas que fosse dado o direito ao cidadão de escolher onde queria ser operado: no privado ou no público.
Vitorino Silva:
“Eu vou sempre a um hospital público mas defendo o privado. Eu não sou contra o privado, se fizer um bom trabalho. No fundo, até deve haver uma boa ligação, em que o público aprende com o privado e o privado com o público.”
“Há dinheiro noutras áreas: gasta-se milhões e milhões nos bancos. Que se tire para a saúde”
TAP: o assunto que os separa
Vitorino Silva:
“Eu não quero que se faça da TAP o Novo Banco.”
“Quero a TAP pública, mas com bons gestores.”
Tiago Mayan Gonçalves:
“Eu acho que não pode entrar nem mais um euro publico na TAP. Eu não quero ser acionista da TAP.”
“A TAP nunca demonstrou ser viável. Abandonou o país muitos anos antes da pandemia. Abandonou o Norte, o Algarve”.
Contexto: Este foi o único tema do debate em que os dois candidatos estiveram manifestamente em desacordo. Embora Vitorino se tenha mostrado descontente com o trabalho da companhia aérea portuguesa, principalmente, no Norte, defende que a “TAP é um símbolo de Portugal” e que deve ser preservada como tal. Por sua vez, Tiago Mayan não hesita em usar expressões como “insolvência” ou “inviabilidade” para uma empresa que, do seu ponto de vista, não devia estar a receber mais dinheiro do Estado.