Antes do frente a frente desta noite, na SIC, entre Rui Rio e André Ventura, a principal curiosidade girava em torno da vontade (e possibilidade) que, neste momento, PSD e Chega possuíam para construir ou queimar as pontes que os separam, no dia seguinte às eleições Legislativas do próximo dia 30 de janeiro. Rui Rio fez questão de abrir o debate pondo os “pontos nos is”, insistindo numa natureza “radical” e “instável” que, segundo o próprio, impede o partido de André Ventura de se assumir como uma real solução de governabilidade – dando mesmo, como exemplo negativo, as peripécias por que já passou o acordo estabelecido pelos dois partidos nos Açores. “Eu não quero ir para o poder a qualquer preço”, sublinhou o presidente social-democrata.
Talvez por ter visto (e revisto) o debate da véspera – contra a bloquista Catarina Martins –, ou simplesmente por se sentir mais próximo do adversário desta noite, o líder do Chega apresentou-se, desta vez, num (não usual) registo afável, quase dócil, conservando a intenção de não abdicar de cortejar um potencial parceiro de uma futura coligação. “No dia 31, (…) o Chega estará onde sempre esteve. Disponível para falar com o homem que tenho aqui à minha frente minha frente [Rui Rio], que é líder do PSD”, disse André Ventura. Face à rejeição, Ventura dedicou-se aos temas que lhe são caros, persistiu na vontade de “fazer tudo” para retirar António Costa do poder e, em tom agastado, quase desiludido, questionou, por várias vezes, Rui Rio, “em que é, afinal, o Chega radical?”.
Veja as frases que marcaram o debate:
Coligação para viabilizar Governo
O debate abriu com a pergunta mais aguardada: PSD e Chega podem ou não entender-se (coligados ou através de um acordo), após as Legislativas de 30 de janeiro, para viabilizar um Governo à direita. Rui Rio rejeitou o cenário. André Ventura, por seu lado, lamentou esta posição.
RUI RIO
“Reconheço que se o Chega tiver uma votação muito elevada vai dificultar o PSD de ser Governo. Aquilo que o Chega diz é que só apoiará o PSD se fizer uma coligação com o PSD, até diz que quer quatro ou cinco ministros, isso não pode ser porque há divergências de fundo entre PSD e Chega que não permitem isso. Eu não quero ir para o poder a qualquer preço”.
ANDRÉ VENTURA
“O ónus tem de ficar do lado de Rui Rio, que disse que abdicaria de governar se dependesse do Chega. E isto só tem um sentido: prefere estar com António do Costa. Foi Rui Rio e não André Ventura que disse que se dependesse do Chega se metia nos braços do Partidos Socialista, o que é estranho”.
Chega: radical?
Rui Rio insistiu na ideia de que o Chega é um partido “radical” e “instável” para desenhar, claramente, uma linha vermelha entre partidos. André Ventura reagiu, encontrando pontos comuns entre os partidos e, sobretudo, nas convicções do próprio Rui Rio em matérias como Justiça ou na atribuição de subsídios. Mas, perante a insistência de Ventura, Rio nunca se revelou seguro a explicar porque considera o Chega um partido “radical”.
RUI RIO
“O Chega é um partido radical”.
Uma negociação nunca pode chegar a uma situação em que haja ministros do Chega ou a uma situação em que vamos violentar o que são os nossos princípios”.
“Se o Chega se moderar… mas o Chega não se tem moderado (…)
“Neste momento, face ao historial [de André Ventura], não é possível ter confiança”
ANDRÉ VENTURA
“O Rui Rio não tem de gostar de mim – isto não é o programa Quem Quer Namorar com um Agricultor, mas um programa para formar o Governo. Temos de pôr as nossas simpatias ou antipatias pessoais acima disto. Está em causa um Governo para mudar a governação de António Costa. E o que Rui Rio vem aqui hoje dizer é que o Chega é radical e instável. Porquê? Não sabe bem porquê…”
“No dia 31, (…) o Chega estará onde sempre esteve. Disponível para falar com o homem que tenho aqui à minha frente minha frente [Rui Rio], que é líder do PSD”.
Instabilidade
Rui Rio insistiu na ideia de que o Chega não é de confiança, classificando o partido de André Ventura de “instável”, dando como exemplo o acordo de governação tremido existente nos Açores. Mais: voltou a posicionar o “seu” PSD ao centro, rejeitando aproximações mais à direita. André Ventura aproveitou o mote para voltar a exigir presença num futuro Governo de forma a viabilizar um possível acordo, atacando o posicionamento ideológico de Rio.
RUI RIO
“O Chega é instável. E não posso fazer uma união com um partido instável. Ou é a favor do Serviço Nacional de Saúde ou é contra; ou é a favor da escola pública ou é contra. Nos Açores, há um acordo e, na primeira oportunidade, o Chega criou instabilidade (…)”.
“Há aqui uma instabilidade. E essa instabilidade aconteceria no Governo da República aquilo que está a acontecer nos Açores. Aquilo que entendo é que os portugueses não querem um PSD encostado à direita, mas moderado, próximo do centro, e isso eu revejo-me totalmente, é a minha maneira de ser, a minha maneira de estar, é onde ideologicamente me situo”.
ANDRÉ VENTURA
“O Chega só aceita um Governo de direita em que possa fazer transformações, e isso implica presença nesse Governo (…) Rui Rio diz: preferia estar à esquerda do que à direita. Então, se calhar, não deveria ser líder do PSD, deveria ser líder do PS, mas isso não é escolha minha…”
Subsídios, cortes e fiscalização
Rio e Ventura reaproximaram-se na reta final do debate… mantendo, porém, as distâncias que se fizeram notar ao longo de toda a noite – alimentadas, principalmente, pelo líder do PSD. Em relação aos subsídios, Rio recusou cortes, mas sempre foi dizendo que “que há pessoas que se acomodam ao subsídio de desemprego ou ao RSI”. Ventura recuperou o sorriso… e o tema dos Mercedes à porta de casas.
RUI RIO
“Sou totalmente contra o corte de subsídios (…) Os apoios sociais têm de se manter. Quero, no entanto, fiscalizar, porque todos sabemos que há pessoas que se acomodam ao subsídio de desemprego ou ao RSI e depois têm ofertas de emprego e não aceitam e mantêm-se nessa vida”.
“Estamos a falar de uma moralização”.
ANDRÉ VENTURA
“É do interesse dos portugueses é que se fiscalize quem tem Mercedes à porta e vive de subsídios (…) Hoje temos políticos em Portugal que estão presos e que estão a receber pensões vitalícias (…) E não devíamos estar a pagar e gostava que o PSD tivesse coragem de dizer isso”.
Redução dos deputados
O debate fechou com o tema da redução de deputados da Assembleia da República – outro tema que aproxima (um pouco) candidatos. Neste caso, a revisão constitucional do PSD aponta para uma redução de 40 deputados (para um total de 190), enquanto o Chega vai mais longe: e quer um Parlamento com apenas 100 parlamentares. Rio aproveitou para brincar, ao mesmo tempo que defendeu a representatividade dos grupos parlamentares mais pequenos; Ventura fechou o frente a frente agarrando-se à ideia-chave (que, sempre que pode, repete) de retirar privilégios aos políticos.
RUI RIO
“Acho que se a Assembleia da República funcionasse com menos deputados alguns achariam um sossego porque André Ventura jamais seria deputado”.
“Defendemos uma redução moderada de deputados, senão, qualquer dia, o Parlamento só tem PSD e PS (…) Não podemos tirar a voz aos grupos parlamentares mais pequenos (…) um grupo parlamentar com três ou quatro deputados funciona mal, como é lógico”.
ANDRÉ VENTURA
“Defendemos redução para 100 deputados”.
“Essa é a nossa diferença, é que eu não penso em mim. Eu quero reduzir o número de deputados mesmo que isso me prejudique a mim. O país tinha a ganhar com muito menos gastos em políticos (…) uma parte (dos políticos é desnecessária”.