“Saí agora da missa, ainda não vi todas [as projeções]. Poder-se-ia dizer “pouco católica”, a expressão com que André Ventura se apresentou, acompanhado pela mulher, à chegada ao hotel Marriott, em Lisboa, quartel-general do Chega para esta noite – contrastando, visivelmente, com os sorrisos rasgados que, nas duas últimas semanas, usou em público durante a campanha eleitoral.
Numa primeira reação às projeções destas Legislativas, André Ventura admitiu estar perante uma vitória agridoce. “Neste momento, há um dado mais positivo e um dado menos positivo: o mais positivo, é que o Chega será, ao que parece, a terceira força política, conseguindo ultrapassar os 7%; o menos positivo, aparentemente, é que António Costa renovará uma maioria para conseguir governar”. “Positivo para o Chega, negativo para o País”, resumiu.
Recusando avançar, para já, com estimativas quanto ao número de deputados eleitos pelo partido – as várias projeções apontam para um intervalo entre os seis e os 14 parlamentares –, o presidente do Chega direcionou agulhas para o PSD, responsabilizando Rui Rio por aquilo que, por esta altura, parece ser uma derrota da direita. “Chegamos a esta situação muito por causa dos que disseram, ao longo da campanha: ‘Com o Chega não, com o Chega não…’, afirmou. “Apesar do enorme crescimento do Chega, acho que hoje, para a direita, é um dia menos positivo”, concluiu.
Quartel-general… vazio e em silêncio
Três, dois, um… Às 20h00 em ponto deste domingo, dia 30, as bandeiras de Portugal e do Chega, que decoravam a meia centena de cadeiras vazias que compunham o quartel-general do partido de André Ventura, permaneceram esquecidas (e enroladas)…
Presente, somente um grupo de meia dúzia de jovens do Chega – encabeçado por Rita Matias, número três pelo círculo de Lisboa (e que, provavelmente, será eleita deputada) –, que, ainda assim, se manteve impávido perante as primeiras projeções; fosse pela vitória do PS; fosse pela companhia da Iniciativa Liberal, (ainda) na luta pelo estatuto de terceira força política.
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Trinta minutos depois, Pedro Pinto, secretário-geral do Chega, e cabeça de lista pelo círculo de Faro, surgiu na sala para, numa primeira reação oficial do partido, encher o vazio e romper o silêncio. O dirigente falou de “um Chega consolidado no terceiro lugar”. “As primeiras indicações dizem-nos que o nosso objetivo será conseguido, que é o ficar no terceiro lugar (…) é um grande resultado que o partido vai ter no dia de hoje, pois éramos um partido com um deputado e vamos, com certeza, eleger um grande grupo parlamentar”, sublinhou.
Sem ainda saber se será eleito para o Parlamento, Pedro Pinto não deixou de “provocar” os partidos mais à esquerda: Bloco de Esquerda e PCP, reclamando, para si, o mérito pelos previsíveis maus resultados destes partidos. “Outra coisa muito importante que conseguimos: é que a extrema-esquerda seja empurrada para o sítio para onde merece. As primeiras projeções dizem-nos que BE e PCP vão ficar num cantinho no Parlamento”, afirmou. Reações? Ninguém para as ter…
21h30. O Chega tem (para já) dois novos deputados no Parlamento: Rui Afonso e Pedro Frazão
A noite vai ser longa, mas, às 21h30, com a contagem dos votos, o Chega já tinha elegido, pela primeira vez na sua história, dois deputado para a Assembleia da República, para além do presidente André Ventura: Rui Afonso e Pedro Santos Frazão, eleitos pelos círculos de Porto e Santarém, respetivamente.
Rui Afonso é líder distrital do partido; Pedro Santos Frazão é veterinário, pai de sete filhos, e, recentemente, esteve envolvido numa polémica em novembro do ano passado, quando provocou, nas redes sociais, a deputada não-inscrita Joacine Katar Moreira, após a dissolução do Parlamento, e o previsível fim do mandato da deputada. Katar Moreira definiu o comentário como algo à imagem do que é o Chega: “misógino e homofóbico”. E anunciou que iria apresentar uma queixa crime contra Pedro Santos Frazão.
Agora, é a sua vez de entrar no hemiciclo. A esta hora, porém, não há ainda ninguém na sala para assinalar o feito.