Na reta final da campanha, as divergências à esquerda parecem ter ficado para trás (ou, pelo menos, permanecido escondidas). “Pressionada” pelas última sondagens – que colocam PSD à frente do PS (e apontam para eventual maioria parlamentar de direita) –, Catarina Martins reforçou a declaração de “tréguas” ao PS e a António Costa. E aproveitou a arruada do Bloco de Esquerda, esta quinta-feira, em Lisboa, para pôr os pontos nos “is”: “Se houver uma maioria à esquerda, o Governo será à esquerda. Esse é o compromisso do Bloco de Esquerda. Claro que nunca será aprovado um programa de direita minoritário, claro que não, era o que mais faltava… Já o fizemos em 2015 e, se houver uma maioria à esquerda, é à esquerda que se vai negociar um Governo para este País”, afirmou.
Cerca de duas centenas de militantes e apoiantes do Bloco reuniram-se, a meio desta tarde, na Praça Paiva Couceiro, com bandeiras do partido, vermelhas, verdes, arco-íris, todas as cores, engrossando fileiras que, por esta altura, procuram responder ao mau prenúncio que indica, como muito provável, que o BE veja reduzidos, drasticamente, daqui a menos de 72 horas, os representantes que compõem o grupo parlamentar do partido (atualmente com 19 deputados), eleitos nas Legislativas de 2019 – música, cânticos e danças podem não resolver todos os problemas, mas, para já, têm mesmo de servir para afastar o pessimismo, e colocar sorrisos nos rostos.
A mostrar apoio à candidatura, na primeira fila, um regresso surpreendente: o da ex-deputada bloquista Ana Drago; mas já lá vamos a este momento.

A massa humana seguiu, depois, em festa, pela rua Morais Soares – um clássico do partido (repetido campanhas anteriores). Catarina Martins, ombro a ombro com Mariana Mortágua, cabeça de lista por Lisboa, e Beatriz Gomes Dias, deputada municipal da Câmara Municipal de Lisboa, encabeçou a comitiva, semblante animado, leve no caminhar e no trato, sorriso nos lábios e nos olhos, interrompendo-se, meia dúzia de vezes, em diálogos pontuais e breves com a população da zona, habitantes e lojistas, recebendo apoio e votos de boa-sorte para as eleições domingo. Sentido descendente.
A descida, porém, não parece assustar a coordenadora do BE. Mais sondagem, menos sondagem, Catarina Martins agarra-se, com confiança, ao objetivo definido desde o princípio: ser a terceira força política mais votada nas Legislativas. E manter o partido como o principal pilar para a constituição de um Governo à esquerda, repetindo a receita de 2015: “No dia a seguir ao dia das eleições, na segunda-feira, 31 de janeiro, vamos ter negociações sobre que Governo temos. E o voto no Bloco de Esquerda é o que vai criar uma solução forte para o País. Por isso, é tão importante que o BE seja a terceira força política mais votada, em Lisboa e em todo o País. A força do BE é que vai desenhar o dia seguinte, vai afastar a direita, vai afastar a extrema-direita do poder e vai construir, sim, um contrato para Portugal que não esqueça quem tem mais sofrido”, afirmou.
A reunião com o PS e António Costa tem data marcada na agenda de Catarina Martins.
Ana Drago deita “divergências” para trás das costas e entra na campanha (para apoiar BE e Catarina Martins)
Ana Drago desvinculou-se do BE em 2014… A socióloga, ex-deputada do partido (entre 2002 e 2013), “bateu com a porta” ruidosamente, chegando, logo no ano seguinte ao “divórcio”, a candidatar-se às eleições Legislativas de 2015 pelo Livre, na altura, fundado recentemente por Rui Tavares. Agora, as pazes parecem ter sido feitas – o que justifica a reaproximação.

Ana Drago regressou, esta quinta-feira, sem aviso prévio, à linha da frente do BE, para manifestar o apoio ao partido. “Estou aqui para dar um abraço. A campanha que está a ser forte e, neste momento, é muito necessária para o nosso País. Eu vou participando sempre que posso: às vezes, estamos dentro dos partidos, outras vezes, estamos fora… É assim que funciona a democracia”. Significa, então, que se prevê um regresso de Ana Drago ao BE? “Estou bem como estou, obrigada!”, respondeu, rindo à gargalhada. A resposta fica, para já, por responder…
Catarina Martins, por outro lado, respondeu – sem esconder a satisfação face à presença deste “reforço”: “Fico muito contente por a Ana [Drago] ter vindo dar a sua força ao BE. É muito importante que o tenha feito, as discordâncias que poderemos ter em algum momento são isso mesmo. A política é feita de convergências e divergências e à uma coisa que eu e a Ana estamos totalmente de acordo: a responsabilidade, neste momento, é um acordo para o Governo deste País, que depende da força do BE… Foi muito bom tê-la nesta campanha. É, até, com emoção, que a vejo a juntar-se a nós, e a vir aqui deixar-nos o seu abraço”, disse.
Esta divergência está resolvida; Catarina Martins espera, agora, dedicar-se a construir outras “pontes”.