Não foram mais de 25 os minutos que António Costa usou, no pavilhão da Sociedade Filarmónica União Piedense, em Almada, para sinalizar os resultados da sua gestão desde 2015 e contrapor esse cenário com aquilo que o País se arrisca a perder caso opte por dar uma vitória a Rui Rio. Para o recandidato a primeiro-ministro, a solução passa por, “no próximo domingo, ultrapassar esta crise politica que irresponsavelmente foi criada em Portugal”, com os portugueses a darem a “responsabilidade” ao PS de poder governar “sem ser às pinguinhas e de crise em crise” e a evitarem que haja uma gestão que “dependa da extrema-direita”.
Sem nunca ter sinalizado a importância dos parceiros da esquerda, que lhe permitiram chegar ao poder e à constituição da Gerigonça, o socialista disse não haver “rancores” sobre o que aconteceu, mas que a escolha no domingo é ou “devolver ao País a tranquilidade” ou então ter um possível Governo do PSD que, a exemplo do que aconteceu nos Açores, será “condicionado” pelo Chega.
“Sejamos claros: o muro que nos separa da extrema-direita não começa à porta do Conselho de Ministros”, apontou, aludindo às declarações que Rio tem feito, em que afasta Ventura de um possível Executivo, mas não descarta os votos do Chega no Parlamento para apoiar a constituição de um governo ou viabilizar iniciativas legislativas e orçamentos.
As palavras de Costa seguiram-se a uma mensagem, transmitida no ecrã gigante, do antigo primeiro-ministro grego e líder do Syriza, Aléxis Tsípras, que fez questão de lembrar o pioneirismo da solução governativa em Portugal e a inversão de uma política austeritária.
“Queremos continuar um trabalho, porque não vamos começar agora. Começámos, como o Aléxis Tsípras disse, quando era difícil começar e quando muitos não acreditavam que era possível romper com a austeridade”, disse o secretário-geral do PS, num palco por onde já tinham passado também a líder parlamentar, Ana Catarina Mendes, o ex-candidato presidencial apoiado pelo partido, Sampaio da Nóvoa, e a autarca de Almada, Inês de Medeiros.
Segundo Costa, aludindo ao período entre novembro de 2015 e o começo da segunda legislatura do PS, “ao contrário dos 15 anos anteriores, nos quatro primeiros anos [da Gerigonça], Portugal voltou a crescer acima da média da União Europeia e voltou a aproximar-se dos países mais ricos”. E, por isso, provou que “o diabo não veio”. “Não só não veio como houve uma diminuição dos juros da dívida”, disse, entre outros exemplos, de um período sobre o qual não mencionou nem bloquistas, nem comunistas.
Aliás, fê-lo, apontando quem “irresponsavelmente” atirou o País para eleições. “É impossível perceber porque se criou esta crise política. Como disse a Ana Catarina [Mendes], basta andar na rua. Não há um único português que desejasse esta crise. [Por isso] É acabar com esta crise política já e não a prolongar pelos próximos quatro anos, ou andar a governar às pinguinhas, de dois em dois anos, em microciclos, de crise política em crise política”, pediu, garantindo que o PS conseguirá tal feito “sem acrimónias e rancores” para com os responsáveis pelo atual momento político.
Da agenda “escondida” de Rio ao “custo” do voto do Chega
“O voto no PS é certo e seguro – não temos um programa de governo escondido“, disse, referindo-se aos sociais-democratas, associando-os ao Chega. “Das duas alternativas de governo que temos [ou PS ou PSD], a do PS é a única que, em circunstância alguma, dependerá da tolerância, da complacência acordada ou não acordada com a extrema-direita; porque com extrema-direita não queremos nada, nada, nada. E nunca dependeremos, nunca, do voto da extrema-direita”, frisou.
O líder socialista destacou a solução governativa em Ponta Delgada, encabeçada pelo social-democrata José Manuel Bolieiro, para dar como exemplo aquilo que é preciso evitar em Lisboa: “Sejamos claros, o muro que nos separa da extrema-direta não começa à porta do Conselho de Ministros. O muro começa nos valores fundamentais na qual assenta a dignidade humana – e essa nunca poderá ser condicionada por quem quer que seja. E nos Açores já vimos bem que não é preciso que a extrema-direita estivesse sentada no governo regional, para condicionar a política do PSD“.
“Não queremos que na República aconteça o que acontece nos Açores. E tal como não há almoços grátis, também não há tolerâncias grátis, também não há viabilidades grátis – e a viabilização de um governo de direita pela extrema-direita tem um custo“, concluiu.