Passavam dois minutos das 18h00, quando o céu desabou sobre as cerca de duas centenas de pessoas que resistiam na arruada do Chega, realizada esta sexta-feira, em Lisboa. Quim Barreiros acabara de abrir o mini-concerto com o sucesso “A Cabritinha”, e já dedilhava as notas da segunda canção quando o sistema de som foi abaixo. Durante três minutos e meio, os apoiantes do partido de André Ventura – homens e mulheres (alguns idosos; pouquíssimas crianças) –, concentrados na Praça do Município, levaram com toda a água do mundo, procurando, em correria, abrigo debaixo dos telhados dos edifícios mais próximos, como a Câmara ou o Banco de Portugal.

Há pouco mais de três anos, André Ventura dizia sentir que “Deus” lhe tinha “concedido esta missão” de “transformar Portugal”, mas, ao que parece, o Chefe não alertou São Pedro para a importância da descida do Chiado – em vésperas de, à partida, o Chega conseguir o seu melhor resultado eleitoral de sempre. A “máquina” do partido, diga-se, bem tentou puxar pelos presentes. Mas a tarefa não era nada fácil.
O receio de ficar longe do que se chegou a prever é, hoje, palpável; o que parecia certo, note-se, ainda em janeiro, aquando da realização da Convenção Nacional em Viana do Castelo. Dois meses depois, André Ventura continua a pedir por “uma oportunidade”, aproveitando o momento para apelar “aos mais novos”. As sondagens mais recentes, porém, indicam que a estratégia de “não, é não” de Luís Montenegro continua a ajudar no apelo ao voto útil na Aliança Democrática (AD).

A última ação de campanha do Chega, antes do dia de reflexão, pode ter confirmado esse gradual “esvaziamento” das intenções de voto no partido radical populista, que chegou a anunciar sondagens que lhe davam mais de 20% dos votos. Melhor, não ficou. Certamente.
A arruada do Chega que fechou a campanha eleitoral (e que fica resumida pela chuva, vento e frio), entre o Chiado e a Praça do Município, em Lisboa, parece corresponder, precisamente, à ideia de uma perda de dinâmica ao longo do mês de debates e campanha. E nem sequer o apoio estrangeiro pareceu capaz de alterar este cenário: um brasileiro, empunhava orgulhoso a bandeira do Brasil Imperial; uma mão-cheia de espanhóis, desfilaram com uma faixa do Vox, partido nacionalista do outro lado da fronteira (do “amigo” Santiago Abascal). Faltam menos de 48 horas para se saber a realidade.

“Ataque” ao Chega” de Marcelo, acusa André Ventura
Durante a caminhada, André Ventura aproveitou para falar de Marcelo Rebelo de Sousa. Segundo notícia publicada, esta quinta-feira, no Expresso, o Presidente da República não aceita um primeiro-ministro que substitua o atual líder do PSD, Luís Montenegro, para apresentar uma maioria de direita com o Chega. O semanário avança que Marcelo Rebelo de Sousa não quer o Chega no governo.
“É inadmissível que alguém queira dizer aos portugueses que um partido nunca governará. O partido governará se os portugueses quiserem, se votarem nele, porque somos nós que decidimos, não é mais ninguém”, defendeu André Ventura.

No último ato de campanha do Chega, Quim Barreiros cantou a canção “Mestre da Culinária”. André Ventura e os seus mais próximos, não dispensaram um pezinho de dança para a fotografia – entre os quais, cabeças de lista nestas legislativas como Rita Matias (efusiva), Pedro Frazão (efusivo), Rui Cristina, Henrique de Freitas ou António Pinto Pereira, que até dispensaram o guarda-chuva.
Seis minutos depois de ter começado a cantar, Quim Barreiros calou-se e arrumou o acordeão. “Para a próxima até posso ir ao Bloco de Esquerda. Desde que paguem”, esclareceu. O artista foi à sua vida. Ele e toda a gente.
