“Andar para a frente” é, provavelmente, a frase que Pedro Nuno Santos repetiu mais vezes nesta quinta, 7, penúltimo dia da campanha para as legislativas. Fê-lo no almoço-comício do Partido Socialista (PS) em Marco de Canaveses, apelando “à larga maioria invisível que tem memória, mas não tem voz, aquela que votou no PS em 2022 e que queremos que volte a votar, para não regressar ao passado”. Já não se tratava de convencer os indecisos, mas sim de agarrar os antigos votantes, porventura desiludidos com o rumo da governação da maioria socialista. “Aos que votaram no PS em 2022, sabemos as dificuldades destes dois anos, com a crise inflacionista”, reconheceu o líder socialista. “Mas nós conseguimos ultrapassá-la sem atingir quem trabalha”, acrescentou, recordando quem, em tempo de crise, cortou a direito.
Em terra de ferroviários, o antigo ministro das infraestruturas sublinhou que “continuaremos a lutar por quem trabalha, sendo que “connosco os salários aumentam por respeito e por convicção (…), não falamos nisso apenas na campanha”. Tal como “falamos a sério das pensões e reivindicamos apoio para os mais velhos”, ou não veem a luta das mulheres como “uma nota de rodapé”, e acreditam que devem valorizar e defender os seus direitos. O discurso entusiasmou as hostes e foi interrompido por um “o povo não esquece e agradece ao PS”.
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Para falar do “país real”, esteve Cristina Vieira, presidente da câmara do Marco de Canaveses. “O País não está parado e cresceu”, assegura, elencando um conjunto de medidas – das creches à reabilitação das escolas, das obras na ferrovia à habitação –, tomadas no concelho com o apoio do governo socialista.
Francisco Assis, cabeça de lista do PS no distrito do Porto, desdobrou-se em elogios a Pedro Nuno Santos, o homem que “conseguiu uma coisa que ninguém conseguiria: mobilizar o povo da esquerda democrática em Portugal”. Gabou-lhe a frontalidade, a coragem e a decência, terminando o discurso com uma máxima emprestada ao Hóquei Clube do Marco, no pavilhão do qual decorria o almoço, com cerca de 1000 militantes: “Lutar sempre, desistir nunca”.
Banho de chuva e de multidão
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Arrumados pratos e talheres, havia que rumar ao Porto, onde uma multidão se juntava para a arruada na praça da Batalha, entre anónimos e ilustres socialistas – de Rosa Mota a Manuel Pizarro. “O povo não esquece, dia 10 é no PS”, gritava, mal saíram em direção à rua de Santa Catarina, mas para Emídio Sousa, 67 anos, “andam para aí uns esquecidos, que não se lembram que os outros só cortaram”. Reformado, com a mulher a receber uma pensão de invalidez, ainda se lembra das dificuldades que passou no tempo da coligação PSD/CDS-PP. “O Coelho não aumentou nem um tostão, pelo contrário”, diz. Por isso, Emídio está receoso dos resultados das legislativas, face as sondagens pouco conclusivas. “Há pessoas que estão a virar… eu não, eu não como queijo”, garante o portuense.
Nem a chuva que começou a cair impiedosamente demoveu os apoiantes, muitos deles de cabelos grisalhos. Adriana Mendes da Silva, 75 anos, três bandeiras numa mão, gritava entusiasticamente as palavras de ordem à passagem de Pedro Nuno Santos – rodeado por um cordão de câmaras, era impossível chegar até ele, como desejaria. Professora reformada, de Vila Nova de Gaia, é habitué nas campanhas socialistas. “Sempre votei PS, por causa dos meus filhos, dos meus netos e do povo português”, conta.
A meio da Rua de Santa Catarina, encontrava-se outra pequena comitiva, a do partido RIR – Reagir, Incluir e Reciclar, liderada por Tino de Rans, um rosto familiar ao PS, onde aquele fez as primeiras aparições no palco político. “Ó Tino, anda connosco, não sejas assim”, brincavam uns militantes socialistas. “Tenho pena que muitos andem distraídos, o RIR será uma grande surpresa no próximo domingo”, garante Tino. Ele não será, com certeza, um dos muitos indecisos a quem Pedro Nuno Santos tem apelado insistentemente para votar no PS. “Estamos a mostrar a nossa força, a vontade de continuar a avançar em Portugal com o PS. Não é só a quantidade de pessoas, é o ânimo, é o entusiasmo com que vocês estão”, disse, no final da arruada. “Que cada um leve um indeciso a votar, para melhorar os nossos salários, as nossas pensões, o nosso serviço nacional de saúde.”
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Com fanfarras e cabeçudos, pétalas de rosa vermelhas e brancas atiradas das janelas, e uma energia palpável entre as pessoas ali presentes, mesmo debaixo de guarda-chuvas, havia que afastar quaisquer previsões pessimistas quanto ao vencedor no próximo domingo. “Acredito que Portugal inteiro tem a consciência de que houve um governo que caiu injustamente, e sei que o povo vai reconhecer isso”, atirou, Sílvia Azevedo, de Paços de Ferreira. Como muitos, segurava um cravo vermelho na mão. Será que, afinal, como dizia um cartaz, “abril começa em março?”.