Nuno Afonso já passou por PSD e Chega. Hoje, vereador independente na Câmara Municipal de Sintra – depois do “divórcio” com André Ventura –, decidiu aceitar o desafio da coligação que junta Partido da Terra (MPT) e Aliança, o Alternativa 21, apresentando-se como cabeça de lista por Lisboa, para acabar com o que designa como “direita bacoca”.
Em 2022, os dois partidos que forma a coligação não foram além dos 10 mil votos. Presente em 18 círculos eleitorais, o Alternativa 21 quer inverter a tendência de queda, embora Nuno Afonso reconheça que luta com armas “desiguais”.
Ainda assim, mantém a esperança. Em entrevista à VISÃO, o candidato aponta como meta “eleger um candidato” para o Parlamento. Representante de “uma direita tradicional nos costumes e liberal na economia”, Nuno Afonso promete fazer “como faz na Câmara Municipal de Sintra” e ser, no Palácio de São Bento, “a direita com quem se pode conversar”.
O outdoor da candidatura do Alternativa 21 anuncia que quer “limpar a direita bacoca”, e até inclui a figura de André Ventura com uma cruz por cima. Não receia que a sua aparição – que é fundador e ex-número 2 do Chega – possa ser interpretada como uma tentativa de desforra contra o Chega e o seu líder?
Não, porque esta candidatura não é contra absolutamente ninguém. É uma candidatura para Portugal e para os portugueses, em nome dos ideais e dos valores que defendemos. Aliás, para demonstrar exatamente isso mesmo, até prefiro não responder a perguntas sobre esse partido. Falarei do Chega no contexto da política nacional, naturalmente, mas nunca sobre o meu passado no partido. Acho que os portugueses, neste momento, não estão interessados nisso.
Quer, portanto, distanciar-se desse passado… Mas lidera uma coligação no mesmo espectro político. Ao dia de hoje, todas as sondagens indicam que o Chega vai ter mais votos e mais deputados; que a direita terá maioria no Parlamento. Perante esta dinâmica, como é que um projeto como o do Alternativa 21 pode convencer o eleitorado que é a direita “certa”?
Aqui tenho mesmo de falar do Chega… É preciso mostrar a grande diferença que existe entre o Alternativa 21 e esse partido que se diz de direita… Há que ser factual. Nós somos, efetivamente, de de uma direita conservadora, que defende a família, a vida humana, as liberdades individuais, a proteção dos recursos naturais… Representamos o respeito pelos valores e pela cultura seculares do nosso país. Ao contrário do Chega, que era assim no meu tempo, de facto, entre 2018 e 2019, mas que, depois, deixou completamente de ser. Neste momento, o Chega é um partido que tem como único objetivo fazer o que está ao seu alcance – mesmo mentindo ou apresentando propostas que se situam no espectro socialista –, fazer tudo, apenas para tentar ultrapassar o PSD. Há ali [no Chega] uma enorme sede de poder e de fazer tudo o que for preciso para chegar ao poder. O Alternativa 21, não. Representa, de facto, os valores da direita tradicional nos costumes e da direita liberal na economia. Somos, sobretudo, uma direita humanista, com quem se pode conversar.
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O MPT e o Aliança, juntos, não foram além dos 10 mil votos nas legislativas de 2022. Estes números não dão grande margem para otimismos. Como é que se altera esta tendência?
Para começar, vamos estar presentes em mais círculos eleitorais [serão 18]. E, depois, estamos a trabalhar para conseguir passar a mensagem, o que é extremamente difícil. Não temos o dinheiro dos partidos do sistema e, sobretudo, não temos a atenção mediática que eles têm. A verdade é que, desde 2019, o Chega tem sido levado em ombros pela comunicação social. Nem sempre é falado pelos melhores motivos, mas a verdade é que tem sempre uma presença muito forte, principalmente na televisão… Creio mesmo que o presidente do Chega é o político com mais presenças na TV portuguesa, e isso é muito difícil de bater. E há ainda a questão do dinheiro. Um partido como o Chega tem cerca de um milhão de euros em subvenções, por ano, para gastar… Nós não temos nada. É uma luta desigual, mas é, sobretudo, uma luta de ideias. E nós temo-las e queremos implementá-las. O Chega em praticamente cinco anos de política e de presença no Parlamento e não fez absolutamente nada. Não conseguiu aprovar absolutamente nada, não conseguiu discutir nada de forma séria com os outros partidos, portanto, acaba por ser apenas um partido de protesto, de gritaria e de pateadas na Assembleia da República. As pessoas precisam de uma direita que, de facto, responda aos seus interesses e às suas necessidades, levando assuntos à discussão com os outros partidos.
Refere que o Alternativa 21 é um projeto de ideias. Pergunto-lhe, então, quais as principais e que gostava de destacar nesta campanha?
O nosso programa tem sete ou oito eixos fundamentais, que vão da saúde – que acho ser o setor que mais preocupa os portugueses neste momento – às questões económicas. Para destacar um tema, gostava de explicar porque achamos a conversa sobre o aumento do salário mínimo algo apenas eleitoralista. Já expliquei isto em vídeos e publicações: quando se aumenta o salário mínimo, mas se mantêm os impostos na mesma, isso vai criar dificuldades cada vez maiores para as pequenas e médias empresas, que passam a ter de pagar mais impostos sobre com os salários dos seus trabalhadores. O que vai acontecer é que essas empresas só têm três hipóteses: fecham as portas, despedem empregados ou têm de aumentar exponencialmente o preço do seu produto final – o que vai criar um aumento da inflação. Portanto, a única solução para resolver o problema, para as empresas terem mais dinheiro disponível, para poderem investir mais, é baixar impostos. Se as empresas gastam menos com os funcionários, podem manter mais gente empregada, o que vai baixar a taxa de desemprego. Já os portugueses, pagando menos impostos, mesmo mantendo o mesmo ordenado, teriam no final do mês mais dinheiro no bolso para gastar. Obviamente, as pessoas não vão guardar o seu dinheiro no colchão… É por isso que esse dinheiro reentraria novamente na economia, através do consumo. E é assim que a economia funciona, permitindo ao País crescer em termos económicos. Aumentar o salário mínimo só vai criar falências nas pequenas e médias empresas e mais desemprego.
Já falou das dificuldades que o partido enfrenta. O que seria um bom resultado para o Alternativa 21 no dia 10 de março?
Se conseguíssemos eleger algum dos nossos candidatos, seria excelente. Fosse eu, em Lisboa, ou qualquer um dos outros, porque essa é outra das características que me fez aceitar este convite – o Alternativa 21 apresenta candidatos muito bons em vários círculos eleitorais, e isso é muito importante. Claro que também esperamos ter, a partir de 10 de março, um Governo próximo dos nossos valores e da nossa cultura… Preferimos, naturalmente, um Governo que não seja socialista, embora o Alternativa 21, no Parlamento, esteja sempre disponível para respeitar e conversar com todos os partidos. Essa, aliás, é a grande diferença que gostava de salientar. Somos a direita com quem se pode, de facto, conversar.
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E o futuro? Passou por PSD, Chega, é agora vereador da Câmara Municipal de Sintra… Agora, no Alternativa 21… Qual será o futuro político de Nuno Afonso?
Sinceramente, gosto muito da política autárquica, estou a gostar muito do trabalho que tenho feito na Câmara Municipal de Sintra. É bastante aliciante, porque sinto que, a nível autárquico, podemos, de facto, ajudar as pessoas, e isso é algo que gosto muito de fazer. Gosto de ouvir os munícipes, gosto de conversar com eles, gosto de tentar perceber as suas dificuldades e, sobretudo, de tentar perceber como posso ajudar… E acho que, muitas vezes, tenho conseguido fazê-lo. E não tenho problemas nenhuns em dizer que o faço, muitas vezes, com o apoio dos vereadores do Partido Socialista. É isto que considero muito importante na política. Fui eleito pelo Chega, sei a forma como olhavam para mim no início do mandato, mas acho que as pessoas já perceberam que estou aqui para ajudar os outros.
Pondera ligar-se a outro partido?
Esta candidatura pelo Alternativa 21 é o tipo de política que quero fazer. Se for eleito deputado, estarei na Assembleia da República para trabalhar, para dar o meu melhor, como sempre fiz por onde passei… Já estive no Parlamento [foi assessor de André Ventura], mas admito que fiquei muito desiludido com a política partidária. Sou uma pessoa com valores. Tinha uma situação muito confortável no Chega, mas não aceitei vender-me, não aceitei fazer aquilo que o presidente do partido queria obrigar-me a fazer. E aqui estou eu, disponível para ajudar o meu País. Se não for eleito, continuarei a ajudar o meu município. Não consigo adivinhar o futuro, mas posso dizer que gostaria de pensar num projeto sério para a Câmara Municipal de Sintra para daqui a dois anos.