Ao sexto dia de campanha, os estilhaços das declarações de Eduardo Oliveira e Sousa, antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), no jantar-comício da Aliança Democrática (AD), na quinta-feira, ainda estavam cravados na campanha e obrigavam a uma reação. “Há zonas de fanatismo ambiental que muitas vezes têm frustrado projetos de investimento agrícola, florestal, turístico (…)”, comentou Luís Montenegro, à margem de uma visita ao Centro de Artes da Oliva, em S. João da Madeira, nesta sexta. O líder do PSD defendeu o cabeça de lista da AD por Santarém, afirmando que o seu discurso “foi também um alerta para esse desequilíbrio entre os valores que devem estar equilibrados.”
Recorde-se que Eduardo Oliveira e Sousa defendeu que Portugal tem perdido investimento por “falsas razões climáticas”. Sobre isso, Montenegro adiantou, sem concretizar quais, que “há muitos processos de investimento que estão bloqueados por razões ambientais – muitas vezes de forma justificada, outras vezes sem essa justificação”. “Enquanto primeiro-ministro serei intransigente na defesa do ambiente, na defesa de um programa de combate às alterações climáticas”, contrapôs o líder do PSD.
O antigo presidente da CAP tinha alertado ainda para a segurança nos campos “ao nível zero”, que levou a “agricultores dizerem que não faltará muito para que sejam formadas milícias armadas no território”. Montenegro desvalorizou a polémica. “O candidato disse que há roubos no mundo rural, há crime organizado para roubar cobre. Podia ter dito que não é só no mundo rural, que também é no meio urbano. O que ele disse é que os portugueses estão insatisfeitos com a falta de resposta dos poderes públicos para poder travar esta criminalidade”, sublinhou. Negou o incentivo a milícias, acreditando que “o objetivo foi dizer ao país que existe esse problema e que os agricultores estão a ficar desesperados”. “Se os outros partidos acham que o que foi lá dito é crime, estou em desacordo; se acham que alertar para este fenómeno não é correto, estou em desacordo, porque estou ao lado das pessoas. Os agricultores podem saber é que vão ter um Governo ao seu lado, respeitando o ambiente”.
A cultura no programa… mas não na orgânica
No final da visita ao núcleo de arte da Oliva, em S. João da Madeira – terra natal do socialista Pedro Nuno Santos –, o líder do PSD afirmou ficar “muito satisfeito por ver autarquias locais a investir na promoção da cultura e das indústrias criativas”. Falou ainda da importância das políticas públicas, também na Cultura, área em que “o nosso programa aposta fortemente: propomos no próximo quadriénio aumentar em 40% a despesa do Estado na cultura, introduzir no primeiro ciclo o estímulo às várias artes, e aprovar uma nova lei do mecenato que possa dar aos artistas, promotores e agentes culturais um financiamento mais robusto”. Questionado sobre se o executivo AD teria um ministério da Cultura ou uma Secretaria de Estado, Luís Montenegro, respondeu: “Não tratamos ainda da orgânica, tenho isso na minha cabeça, mas não é altura para o divulgar”.
O périplo pelo distrito de Aveiro tinha começado em Oliveira de Azeméis, onde cerca de uma centena de pessoas, sobretudo das juventudes partidárias, aguardavam Luís Montenegro a meio da tarde, para acompanhá-lo pela pedonal rua Dr. Bento Carqueja. Nem os chuveiros os demoveram, aproveitando para entoar o cântico “campanha molhada, campanha abençoada”.
A meio do caminho, um pequeno grupo de lesados do Novo Banco, com placards nas mãos, instava Luís Montenegro: “Faça alguma coisa por nós, são 10 anos de espera”. Têm interpelado, aliás, candidatos de diferentes partidos. “Todos os dias vou a uma campanha. Quero comprometê-los, olhos nos olhos”, conta Jorge Novo, um dos representantes da Associação dos Lesados do Sistema Bancário (ALSB).
Montenegro para em todos as casas comerciais abertas, para distribuir abraços, beijinhos e poucas palavras. A proprietária do restaurante A Janela aproveita para lhe dedicar o seu fado preferido, Que Deus me Perdoe. “Quanto canto não penso/ No que a vida é de má,/ Nem sequer me pertenço,/ Nem o mal se me dá./ Chego a querer, na verdade/ E a sonhar, sonho imenso/ Que tudo é felicidade/ E tristeza não há”, diz a letra. Um canto sem duplos sentidos, confessa, já que se mantém indecisa quanto ao sentido de voto. Como muitos outros portugueses.