Desde algum tempo que os jovens do PPM – Partido Popular Monárquico alegavam que esta força política se parecia cada vez mais com um partido de um homem só; neste caso, do seu presidente, Gonçalo da Câmara Pereira. Mas agora passou a ser um partido sem juventude. A entrada do PPM na Aliança Democrática (AD) levou a uma rutura interna: toda a Juventude Monárquica (JM) bateu com a porta, por, a par de outros órgãos internos, não ter sido consultada previamente sobre a coligação de direita que se apresenta às legislativas
Além do líder da JM, Hugo Varanda Duarte, toda a sua direção e ainda outros 50 jovens monárquicos estão de saída, totalizando 59 elementos. A decisão desta desfiliação em massa resulta no desaparecimento desta estrutura (não se sabe se forma pontual ou definitiva).
De acordo a carta de renúncia de Hugo Varanda Duarte, que foi escolhido por Gonçalo da Câmara Pereira – tendo em conta que a JM não conta com a autonomia eletiva como outras juventudes partidárias -, “a integração da sigla PPM na AD veio mais uma vez demonstrar a falta de palavra e de compromisso, quando esta alternativa não foi sequer apresentada aos conselheiros nacionais [do partido]”.
“Viu-se que, aqui, apenas e só o presidente [Câmara Pereira] é que decide e os membros da ‘família’ têm de assinar”, lê-se no texto, a que VISÃO acedeu, e no qual o líder do PPM e acusado de “não pensar como um presidente, mas, sim, como merceeiro da aldeia velha, onde não existe liberdade de opinião nem transparência nos acordos firmados com os militantes e jovens monárquicos”.
Hugo Varanda Duarte explicou, à VISÃO, que esta rutura acontece num momento em que Câmara Pereira “não comunica com ninguém”.
“Depois de chamar Luís Montenegro e Nuno Melo de líderes fraquinhos, foi atirar-se para os braços do PSD e do CDS como se o PPM fosse a casa dele e não um partido. É um líder que não comunica com ninguém e que nunca quis saber da juventude do partido, até porque, até agora, nunca estava presente em nada”, apontou, frisando que, com esta saída, “pode dar-se por dissolvida a juventude” deste partido.
Para o jovem dirigente, que teve alguma visibilidade quando se candidatou, como independente, à Junta de Freguesia do Beato, em Lisboa, nas autárquicas de 2021, “instalou-se no PPM uma ausência de comunicação e de explicações das decisões que vão sendo tomadas e que depois são apresentadas como inevitáveis ou que são dadas por adquiridas”. “O PPM é um partido republicano e deve fazer por cumprir a Constituição no seu funcionamento”, defende, dando como exemplo a convocação de uma reunião do partido na ilha do Corvo [Açores]. “Obrigar os dirigentes do PPM a deslocar-se para um local tão distante para discutirem o partido é não permitir a existência de um debate democrático”, conclui, salvaguardando que as críticas que visam o líder do partido não se estendem ao “deputado regional do PPM nos Açores, Paulo Estêvão, ao presidente do conselho nacional, João Travassos, ou a Zuraida Noronha, secretária-geral do PPM”.
A entrada do PPM na AD deu-se no início de janeiro, após protestos de Gonçalo da Câmara Pereira por o seu partido ter ficado de fora da aliança estabelecida pelo PSD e CDS, ressuscitando a coligação com a mesma denominação que se apresentou às legislativas de 1979. A VISÃO tentou, sem sucesso, obter uma reação do líder do partido a esta decisão da JM.
Nos últimos 20 anos, o partido fundado por Gonçalo Ribeiro Telles pautava-se por uma prestação eleitoral que vinha a rondar os 15 mil votos nas legislativas. Todavia, em 2019, na idas às urnas para a Assembleia da República, o PPM caiu para metade desse valor. Em janeiro de 2022, nas legislativas, só apresentou candidatos por um círculo – no Funchal, tendo conseguido 260 votos na Madeira.
A diferença tem acontecido nos Açores, onde, além de deputados eleitos na Assembleia Regional, entrou no Governo da coligação de direita do social-democrata José Manuel Bolieiro, em 2020, integrando a coligação que corre às Regionais açorianas, de 4 de fevereiro.