Desde 20 de janeiro a ocupar as funções de cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, o diplomata Alexandre Leitão, que desempenhou missões em diversas partes do Globo, com destaque para os PALOP (cônsul-geral em Benguela, Angola) e Timor-Leste (embaixador da União Europeia em Díli) tinha, como anteriores funções, as de Enviado Especial para as questões do Clima (representante nacional na European Union Climate Ambassadors Network e na EU Green Diplomacy Network). E é com base nessa experiência que tem trabalhado com as autoridades de Macau e Hong Kong na sensibilização para a importância da Economia Azul, “matéria ao lado da qual a China não deverá passar”. Trata-se de um setor onde o diplomata português vê oportunidades de negócio para as empresas portuguesas, “sendo Portugal um país bastante avançado nesse setor”.
Embora sem se pronunciar sobre as relações entre os dois Estados, Alexandre Leitão encontra, nas autoridades chinesas do antigo território de administração portuguesa e, também, de Hong Kong, uma grande facilidade de acesso e “total liberdade para exprimir, em privado, os meus pontos de vista ou as minhas preocupações”.
O cônsul-geral serve uma comunidade de 160 mil portugueses, entre expatriados e os residentes em Macau, ou naturais do território, incluindo a influente comunidade de macaenses. E não está a prever nenhum êxodo, para Portugal, dos macaenses, à medida que se aproxima o final do período de transição em que vigora a Declaração Conjunta [China-Portugal], ou a Lei Básica, documentos assinados por ambos os países, quando da transição da administração para a China, a 20 de dezembro de 1999: “Macau e Hong Kong, que são hoje partes integrantes da China (embora com estatuto de autonomia) inserem-se na ‘Grande Baía’ do delta do Rio das Pérolas, uma região cujo PIB ultrapassa o do Canadá ou o do Brasil; é, portanto, uma região de futuro e, embora haja muitos pedidos de nacionalidade portuguesa e muitas pessoas que desejam fixar-se em Portugal, isso deve-se mais à atratividade do nosso País, nomeadamente para setores como o dos nómadas digitais”. O diplomata refere que essa vontade de fixação em Portugal também se sente, naquela região, por parte parte de pessoas “com outras nacionalidades”.
A China valoriza a especificidade de Macau e considera uma mais-valia o seu património histórico [ligado à presença portuguesa]
Alexandre Leitão reconhece que, em matéria de política externa, Macau não pode desalinhar das decisões de Pequim, mas garante que o facto de Portugal se situar, do ponto de vista geopolítico, na esfera do bloco adversário, não afeta as relações com as autoridades em Macau ou Hong Kong: “Os chineses valorizam os pontos culturais que diferenciam Macau e que refletem a presença portuguesa, consideram essa especificidade uma mais valia cultural e até há programas de investimento para a preservação e recuperação do património histórico.” Mais, diz Alexandre Leitão, “tenho muito respeito pelas culturas políticas e pela sedimentação cultural de países tão antigos como a China e percebo que os chineses se orgulhem da sua antiguidade de mais de 2500 anos de História e que tenham, não só plena consciência da sua força, mas bastante orgulho nela, também”. No fundo, sintetiza, “o sistema confucionista e as democracias liberais ocidentais partem de pontos de vista diferentes e, por vezes, é preciso concordar em discordar – isso não faz de nós inimigos”.
Os chineses orgulham-se da antiguidade da sua civilização, têm plena consciência da sua força – e orgulham-se dela, também
Neste quadro, as oportunidades de negócio mantêm-se, em Macau, para os agentes económicos portugueses, incluindo na área do Turismo “onde temos grande experiência”. Alexandre Leitão refere que, embora o turismo de Macau, que tem um peso decisivo na economia local, esteja muito dependente do jogo, o território quer diversificar a oferta turística “e isso é uma oportunidade para os empresários portugueses do setor”.
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