O Presidente do Conselho Nacional da Juventude lamenta o futuro incerto da sua geração. Chamam-na “a mais qualificada de sempre”, mas o hiato entre o investimento na formação e o retorno no mercado de trabalho estica-se… Rui Oliveira lamenta os baixos salários, que sufocam os mais novos, dificultam o pagamento de habitação própria e o amealhar de poupanças para o futuro.
“Tiramos um curso e depois chegamos ao mercado de trabalho e temos de emigrar para ter uma qualidade de vida parecida com aquela que os nossos pais tiveram”, indicou, em entrevista ao Irrevogável. A maior preocupação do estudante de mestrado de Engenharia Mecânica na Universidade do Minho é “a fuga de talentos”; o país não estar “a aproveitar o talento que está a sair das universidades”, não “materializando isto em economia e em valor para a sociedade”.
A maior parte dos jovens “ganha menos de 950 euros” mensais e “não tem um emprego estável que lhe permita pedir um crédito à habitação – não temos pensamento a longo prazo”, critica, defendendo, em relação à habitação, um parque habitacional público, maior facilidade de acesso ao crédito para os jovens e tornar o programa Porta 65 “mais ágil”.
“É preciso que o arco da governação perceba a necessidade de ter compromissos a longo prazo, ter reformas estruturais para o país, para um futuro estável. Sentimos que andamos sempre para a frente e para trás, uns [políticos] chegam e fazem, outros destroem. Precisamos de compromissos, independentemente do partido que está no poder”, pede Rui Oliveira, criticando a política do “dia-à-dia, do remendo” por oposição “a um crescimento com pensamento”.
Para o presidente do Conselho Nacional de Juventude, os anúncios feitos pelo primeiro-ministro por altura da rentrée socialista – que incluem o alargamento do IRS jovem, devolução das propinas neste imposto, gratuitidade do passe até aos 23 anos, um cheque-livre aos 18, quatro viagens na CP e dormidas nas pousadas da juventude – “são um caminho”. Todavia, Rui Oliveira duvida de que seja com “697 euros num ano [no IRS] que os jovens deixem de emigrar”.
As medidas de Costa são um passo no sentido certo, mas não será com isto que conseguiremos travar o êxodo dos jovens em Portugal
Rui Oliveira
Mesmo assim, o estudante de mestrado considera positivo que “os jovens tenham estado no centro da discussão” na rentrée política, quando, em Portugal, “isso raramente acontece”, acrescento que sente que “há uma valorização da voz dos jovens”. Mas que estes ainda “não têm lugar nas decisões”.
Segundo o convidado do Irrevogável, o financiamento governamental atribuído às associações de jovens fica muito aquém do necessário, prejudicando a elaboração de estudos e, por consequência, de propostas mais concretas.
Radicalização dos jovens “é sinal de descrédito” nos políticos moderados
Na semana em que a Open Society Foundations publicou um estudo a concluir que apenas 57% dos jovens (entre os 18 e os 36 anos) acreditam que a democracia é preferível a qualquer forma de governo, Rui Oliveira assume que este é um “grande motivo de preocupação”.
E que “é um sinal de descrédito e da falta de esperança dos jovens. Os jovens chegam a um ponto em que já não acreditam que as coisas se vão resolver e acabam por cair nos extremos, sem perceber que isso nos atrasará ainda mais na resolução de muitos problemas”. Instando os políticos, a “mudar a forma como fazemos política em Portugal”.
Para ouvir em podcast: