“O dr. Sá Carneiro não tem nada a ver com André Ventura nem nunca teria nada a ver com o Chega. E jamais aceitaria ser invocado, como exemplo, pelo Chega”. Com estas palavras perentórias, Pedro Santana Lopes, 64 anos, antigo primeiro-ministro e antigo presidente do PSD, que abandonou o partido de sempre, em 2018 e, agora, protagoniza uma candidatura independente, no regresso à Figueira da Foz, desautoriza o líder do Chega, quando este “enche a boca” com Sá Carneiro. “Sá Carneiro era um defensor dos direitos, liberdades e garantias, não aceitava discriminação em função de raças ou etnias, não usava certo tipo de linguagem, nem se daria como figuras como Marine Le Pen ou o sr. Salvini”, afirma Santana, ele próprio, um discípulo assumido do fundador histórico do PPD/PSD e uma das figuras que mais de perto privou com o antigo primeiro-ministro da AD.
Sá Carneiro não discriminava em função de raças ou de etnias, não usava certo tipo de linguagem, nem se daria com Marine le Pen ou Salvini…
Já sobre um eventual entendimento, à direita, entre PSD e Chega, Santana defende que, se ainda estivesse no seu antigo partido e tivesse sido eleito presidente “laranja”, aceitaria conversar, tendo em vista um eventual apoio parlamentar a um governo social-democrata. “Mas sem abdicar dos princípios e valores: ouvi o dr. André Ventura, ainda anteontem, na televisão, a dizer que esse apoio está dependente da aceitação de medidas como a da castração química de pedófilos, ou da prisão perpétua… Assim, não.”
Candidato independente à Câmara da Figueira da Foz, revela que teve convites do PSD para muitos municípios, incluindo no Norte do Pais, e até para capitais de distrito – “Lisboa, Leiria…” – pelo que a acusação de que volta à Figueira por não ter mais para onde ir é “completamente falsa”.
Santana fala dos seus projetos para a Figueira, que quer voltar a colocar no mapa, e revela que, num jantar com Rui Rio, lhe disse que a única câmara que nunca aceitaria seria Lisboa. Pelo contrário, afirma, “a Figueira era o último lugar em que o PSD teria autoridade moral para recusar apoiar-me.” E, no entanto, não apoia, por causa das estruturas locais, cujos dirigentes “perceberam que, comigo, não seriam candidatos a vereadores”. No pós-eleições, que espera ganhar, contará com todos os vereadores, mesmo de outros partidos, que sejam competentes e queiram desenvolver um “trabalho sério”.
Santana acompanhou com interesse a III Convenção do MEL, que reune, em Lisboa, os contributos de várias personalidades à direita. E diz que foi convidado para passar por lá, o que faria ao final do segundo e último dia (esta quarta-feira). Mas acredita que a reconfiguração da direita seria totalmente diferente se ele, em 2018, tivesse sido eleito presidente do PSD: “O partido não teria virado à esquerda e os partidos emergentes teriam menos margem para crescer”. Apesar disso, considera a fundação do Aliança “um erro”: “O Nuno Garopa diz que o Aliança falhou porque era o partido de um rosto, e um rosto já muito visto. Dou-lhe razão, reconheço isso”.
Sobre o desempenho do governo de António Costa, durante a pandemia, faz uma avaliação positiva: “No meio dos naturais erros, numa situação muito difícil, o País sentiu que tinha um Governo, um primeiro-ministro e um Presidente”. E também não poupa elogios à ministra da Saúde. Sobre Marcelo, com quem admite ter tido divergências, diz que nunca esperou votar “tão convictamente nele” como o fez este ano, nas eleições presidenciais. E uma candidatura presidencial em 2026? Santana, aí, responde que a prioridade é a de cumprir dois mandatos na Figueira. Mas, ressalva, “nunca se sabe”…
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