Há anos que todas as forças políticas fazem questão de salientar o quanto as votações nas autárquicas são o resultado de dinâmicas locais e da aposta certa nos candidatos de proximidade, dissociando qualquer desaire nas urnas do que possa ser o percurso dos respetivos líderes partidários. Porém, um primeiro-ministro, de seu nome António Guterres, já atirou a toalha ao chão, perante um revés do PS nas eleições para o poder local há 20 anos; e um presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, demitiu-se na senda do pior resultado de sempre do partido, há quatro anos. A verdade é que muito está em jogo no xadrez das autárquicas do próximo domingo – desde as sobrevivências políticas de determinados dirigentes partidários, para quem este sufrágio pode servir de último fôlego para abafar a contestação interna, até à necessidade de algumas forças provarem que conseguem transpor para as autárquicas os resultados obtidos em eleições legislativas. E a prova disso foi a agenda dos líderes partidários, que percorreram dezenas de ações de campanha nas últimas duas semanas, com o secretário-geral socialista, António Costa, a destacar-se pela forte presença no terreno.
PS
METAS
Repetir feito de 2017, quando conquistou o maior número de sempre de câmaras, capitalizando a “bazuca” e o combate à pandemia. Segurar vários dos municípios ganhos à CDU, entre os quais Almada, Alcochete, Barreiro e Moura.
RISCOS
Cenário de perda de Coimbra, Figueira da Foz e Funchal, além de uma vitória relativa em Lisboa.
PSD
METAS
A linha vermelha está no resultado do PSD em 2017, que ditou a saída de Passos. Reconquistar concelhos na Madeira. Evitar que Moedas tenha menos votos do que os do CDS e PSD separados, há quatro anos, em Lisboa.
RISCOS
Resultado abaixo de 98 câmaras pode acabar com liderança de Rio. Perda de votos para o Chega, a norte, e para o PS, nas grandes cidades.
São cerca de meia centena de municípios, dos 308 existentes, que ditarão as expressões e as reações nos locais onde os partidos irão montar os seus quartéis-generais na noite eleitoral, mas também o futuro político de muitos; além do eventual reforço dos movimentos de cidadãos. Por um lado, há mais de três dezenas de câmaras onde os atuais autarcas terminam o seu terceiro e último mandato, abrindo-se a incógnita de se quem os sucederá venha a ser da mesma cor política – e esse dado é importante na contagem final de quem ganhou mais autarquias. Nesse lote, terão sobre elas os holofotes no domingo à noite câmaras como a de Viana do Castelo, atualmente do PS, a de Espinho, nas mãos do PSD, a de Setúbal, que fica sem uma emblemática autarca do PCP, e a de Ponte de Lima, onde há atuais e ex-centristas a lutarem pelo legado de um presidente do CDS.
PCP
METAS
Reconquistar velhos bastiões comunistas, como Almada, de modo que se evite igual desaire de há quatro anos.
RISCOS
Efeito do Chega, no Alentejo, e do PAN, nos centros urbanos.
CDS
METAS
Rodrigues dos Santos precisa de melhorar os números de Assunção Cristas, além de manter as seis câmaras conquistadas em 2017.
RISCOS
Perda de Ponte de Lima, devido à disputa interna. Ficar com menos vereadores em Lisboa, onde está coligado com o PSD.
BE
METAS
Aumentar peso em executivos municipais em que o PS possa ser poder, como em Lisboa, para assumir pelouros. Evitar outra descida em Salvaterra de Magos.
RISCOS
Manter-se residual no mapa autárquico. Perda de votos na Madeira e nos Açores. Subsistir como afronta ao poder local da CDU.