Primeiro veio a vontade de mudar os nomes das ruas do Seixal, como a Rua General Humberto Delgado e a Rua Movimento das Forças Armadas. Depois, os polémicos cartazes, inspirados na vitória olímpica de Pedro Pablo Pichardo (nascido em Cuba), e que pediam ao eleitor que “fuja do comunismo e tenha uma vida de ouro”. Agora, provocação maior: o núcleo social democrata do Seixal está a organizar o “primeiro Avante Sombra”, que acontecerá neste sábado, em simultâneo com a festa magna dos comunistas e a apenas cinco quilómetros da Quinta da Atalaia.
O evento é dedicado “às atrocidades do comunismo”, segundo o organizador e candidato social democrata à Câmara do Seixal, Bruno Vasconcelos. Trata-se de um ciclo de conferências na sede da Sociedade Filarmónica Democrática Timbre Seixalense – que se tornará anual, sempre em paralelo com o Avante – e que terá como oradores o professor universitário Vasco Rato, o cientista político Jaime Nogueira Pinto, a historiadora e deputada da Assembleia Municipal de Lisboa Alline Gallasch-Hall e o padre e cronista Gonçalo Portocarrero de Almada. Os deputados do PSD Pedro Rodrigues, Nuno Carvalho e o presidente do Conselho Nacional de Jurisdição do partido, Paulo Colaço, serão os moderadores dos três painéis sobre “os regimescomunistas de hoje”, “O perigo vermelho no pós-25 de Abril” e “O fim do comunismo e as três décadas da queda do muro de Berlim”.
“Não temos medo de afrontar o politicamente correto e muito menos de meter a nu as atrocidades que o comunismo provocou ao longo da história e ainda provoca em alguns locais do mundo”, justifica Bruno Vasconcelos, que, desde que assumiu a candidatura, tem endurecido o discurso contra os comunistas, a presidir à autarquia desde 2013. Sendo que, nas últimas eleições, perderam a maioria absoluta. Mas Bruno Vasconcelos quer mesmo “limpar o comunismo das ruas do concelho”. Literalmente.
Numa ação de campanha, em agosto, os sociais democratas alteraram, durante a noite, a toponímia das ruas 1.º de Maio (para Rua 25 de Novembro), General Humberto Delgado (para Rua Major-General Jaime Neves), Luís de Camões (para Rua Manuel Maria Barbosa du Bocage), Júlio Dinis (para Rua Pedro Eanes Lobato) e Movimento das Forças Armadas (para Rua em Memória das Vítimas FP25 25 de Abril) – o que levou o deputado socialista José Magalhães a questionar, nas redes sociais, se “uns cacetes terapêuticos não resolveriam o problema” e o vereador comunista Rui Francisco a escrever “que devíamos ir atrás destes pulhas e dar-lhes no focinho”.
“A coragem de combater assim os comunistas”, como Bruno Vasconcelos lhe chama, estende-se aos cartazes que o partido espalhou por toda a cidade. Horas depois do triplista Pedro Pablo Pichardo, nascido em Cuba e naturalizado português em 2017, ter conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio, os sociais democratas divulgavam um novo outdoor a dizer: “Dia 26 de setembro faça como o campeão. Fuja do comunismo e tenha uma vida de ouro”. O tom da campanha está definido.
A opção por campanhas disruptivas para captar voto jovem e evitar perdas para propostas populistas, como o Chega, não é um exclusivo do Seixal e especialistas em comunicação estratégica, ouvidos pela VISÃO, acreditam que esta moda veio para ficar. Na Amadora, a candidata da lista “Dar Voz à Amadora”, que coliga PSD, CDS-PP, Aliança, MPT e PDR, ainda na semana passada ultrapassou as barreiras do concelho a que se candidata e colocou um cartaz à frente da Assembleia da República com a promessa de fazer “o sistema tremer”. Em Oeiras, o social democrata Alexandre Poço tornou-se o maior trending topic nas redes sociais depois de aparecer deitado nos cartazes eleitorais ou a imitar o superespião James Bond, enquanto promete “dar tudo”.