“Cedo ou tarde, nós vamos governar Portugal”. O nome do local escolhido não podia ser mais sugestivo. No Monte das Oliveiras – uma quinta para casamentos, colada à Estrada Nacional 125, nos arredores de Albufeira –, André Ventura usou do habitual tom profético para entusiasmar uma plateia composta por dirigentes nacionais e locais do partido. O jantar, em tom familiar, num clima de boa disposição, marcou a rentrée política do Chega, mas não trouxe novidades de maior, nem na forma, nem no conteúdo. No momento alto da noite, André Ventura utilizou o seu discurso para reforçar a ideia de que, neste momento, personifica a única oposição em Portugal com capacidade para derrotar o PS e António Costa e devolver o Governo à direita – e aponta como início dessa caminhada um resultado positivo (e histórico) já nas eleições autárquicas do próximo dia 26.
Críticas à
Perante muitos empresários ligados ao setor do turismo algarvio – em particular à hotelaria e restauração –, André Ventura aproveitou para capitalizar a insatisfação destes face às decisões do Governo, para conter a pandemia, que obrigaram a fechar vários negócios desde 2020. O presidente do Chega acusou António Costa de ter cometido “uma das maiores fraudes políticas dos últimos anos”, quando, volvido um ano, se apresentou no Congresso do Algarve como “libertador de Portugal”, depois de anunciar o alívio das medidas para combater a Covid-19 nas vésperas das eleições.
“Subitamente e miraculosamente, a vinte e tal dias das eleições autárquicas, já não há internamentos, nem os telejornais abrem com os casos mortais de Covid-19. Parece que agora vivemos no país das maravilhas que vai receber milhões da Europa, que a Covid desapareceu e que António Costa de férias, aqui no Algarve, se apresenta como o libertador de Portugal”, afirmou.
Segundo Ventura, apenas nestas circunstâncias, António Costa, de forma “muito hábil”, avançou com esta decisão. “Só quando começam a chegar as eleições que mais lhe interessam é que, subitamente, se começa a falar de deixar de usar máscara, os restaurantes podem reabrir, os setores podem todos funcionar (…) e já ninguém quer saber nem do Rt, nem dos índices de incidência, nem da mortalidade, nem dos internamentos”, disse.
…e à direita
Embora a mira de Ventura nunca deixe de apontar ao PS e a António Costa, o líder do Chega, no regresso das férias, dedicou grande parte do seu discurso a atacar o trabalho político desenvolvido pelo PSD de Rui Rio e pelo CDS-PP de Francisco Rodrigues dos Santos. Depois de ter visto os principais líderes destes partidos (e do Iniciativa Liberal) rejeitarem, na semana passada, o seu convite, por carta, para a realização de “uma Conferência para um Governo de Direita em Portugal, em Lisboa, no primeiro fim-de-semana de outubro”, Ventura acusou Rio e Rodrigues dos Santos de terem “definhado” a direita, impedindo a possibilidade de um “governo nacional de direita” por não terem “feito o seu trabalho”. “Tornaram-na uma direita burguesa, amorfa e uma direita de meninos copos de leite. Tornaram-na uma direita incapaz de lutar com a esquerda, no seu próprio território, e isso é culpa deles”, afirmou.
O presidente do Chega garantiu mesmo que, neste momento, apenas o seu partido está em condições de garantir uma alternativa de Governo à direita. E diz que o Chega pode, “em dois anos, ultrapassar o PSD como o principal partido da oposição em Portugal”, tornando-se o único que “poderá garantir um governo de direita”. “Se há algum partido que, hoje, dá alguma esperança à direita de voltar ao Governo somos nós. Enquanto a outra direita adormecia (…) nós saímos à rua para lutar. Os portugueses, hoje, sabem que há uma oposição ao Partido Socialista. E mesmo que Rui Rio não faça o seu trabalho, mesmo que Francisco Rodrigues dos Santos não faça o seu trabalho , eles sabem que há uma alternativa ao socialismo em Portugal”, sublinhou.
Momento de stand-up comedy
Bem ao seu estilo, André Ventura não perdeu a oportunidade para comentar o recente Congresso Nacional do PS, em Portimão. O tema da sucessão de António Costa serviu de pretexto para o momento de stand-up comedy da noite, com o presidente do Chega a ridicularizar as hipóteses Mariana Vieira da Silva e Marta Temido, depois de a ministra da Saúde ter recebido o cartão de militante do partido – soltando ruidosas gargalhadas e aplausos entre a plateia.
“Mariana Vieira da Silva pode ser muito simpática, mas é uma nulidade política; Marta Temido pode ser muito simpática, mas adormece qualquer pessoa”, referiu Ventura. O líder do Chega aproveitou ainda o momento para voltar à carga contra Eduardo Cabrita, destacando o esforço que o seu partido tem feito para esclarecer o que se passou no acidente de viação na A6, no dia 18 de junho, que provocou uma vítima mortal, e envolveu a viatura oficial do Ministério da Administração Interna onde seguia o ministro.
Aposta nas Autárquicas
“Uma batalha pela nossa enorme implantação em Portugal inteiro, mas também uma batalha pelo nosso próprio crescimento político”. Foi assim que André Ventura começou a antevisão das eleições autárquicas de dia 26. O líder do Chega aposta forte num resultado positivo e histórico a nível autárquico, capaz de “alavancar” o partido para outros voos. “Queremos ser o terceiro partido português autárquico do país. No dia 27, o país vai estar diferente, haverá centenas de dirigentes do Chega pelo país todo – vereadores, deputados municipais, membros das assembleias de freguesia”.
“[As Autárquicas] Serão a nossa maior alavanca e força para as eleições legislativas (…) o próximo ano vai ser decisivo nas nossas vidas e na vida do nosso partido. Vamos transformar um partido de um deputado e de dois deputados nos Açores, num partido tremendamente implantado a nível nacional. O que quero ouvir, em vez de uma voz a dizer chega de António Costa, ouvir centenas, milhares de vozes a dizer chega de António Costa, e em vez de ouvir de uma voz a pedir um país melhor, ouvir centenas, milhares de vozes a pedirem, a exigirem e a quererem um país melhor”, concluiu.