Miguel Arruda, o deputado que ficou como não inscrito depois de ter sido acusado de roubar malas nos aeroportos de Lisboa e Ponta Delgada usou, esta sexta-feira, uma forma peculiar de votar no plenário da Assembleia da República. A cada votação levantou o braço em riste, emulando o gesto feito pelos nazis.
O gesto de Miguel Arruda provocou uma intervenção de deputado do Livre, Rui Tavares, mas a VISÃO sabe que a forma como o deputado que saiu da bancada do Chega votou causou desconforto em várias bancadas.
Rui Tavares fez uma interpelação à mesa da Assembleia da República para denunciar que Arruda, pelo menos por duas vezes, “de forma consciente e deliberada”, votou “fazendo o gesto da saudação fascista, nazi ou romana”.
“E é um facto que em qualquer parlamento europeu ou qualquer parlamento do mundo tem uma gravidade enorme, porque é uma afronta aos valores democráticos”, acusou o deputado do Livre.
Arruda nega simbolismo do gesto
Confrontado pelo vice-presidente da Assembleia, o socialista Marcos Perestrello, Miguel Arruda, que num telefonema divulgado pela página humorística Jovem Conservador de Direita, revelou a sua proximidade a Mário Machado e ao movimento nacionalista, negou que estivesse a usar o gesto nazi.
“Estava só a sinalizar o meu sentido de voto desse modo. Há vários líderes a fazerem o mesmo, até de esquerda”, disse, argumentando que estica o braço para tornar o seu voto visível para a mesa da Assembleia da República, uma vez que ocupa a última fila do extremo direito do hemiciclo, atrás do Chega.
A votação de Miguel Arruda não deu nas vistas, porém, apenas pelo gesto usado. Arruda foi o único a votar, esta sexta-feira, contra o voto de pesar pela morte da escritora e feminista Maria Teresa Horta, que foi vítima de perseguição no Estado Novo.
O texto do voto de pesar, que teve o voto favorável de todos os outros deputados, enaltecia Maria Teresa Horta pelo seu “percurso de vida marcado pela resistência ao fascismo e pelo ativismo em defesa da democracia e da emancipação da mulher”.
“Em 1972, escreveu, com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, as Novas Cartas Portuguesas (1972), obra seminal do pensamento feminista português e texto decisivo de oposição ao Estado Novo. O livro, que denunciava a situação política do país, a guerra colonial, a condição da mulher, a emigração e a falta de perspetivas para o futuro dos jovens, agitou a consciência pública do país e desembocou num processo judicial politicamente motivado”, lia-se no texto contra o qual Miguel Arruda votou.