25 de Novembro de 1975: Os protagonistas, os factos e a polémica de uma data que escalda

Ramalho Eanes, comandante operacional, com Costa Gomes (Presidente da República e CEMGFA), Melo Antunes, líder do grupo moderado dos Nove, Jaime Neves, chefe dos Comandos, e Mário Soares, líder do PS

25 de Novembro de 1975: Os protagonistas, os factos e a polémica de uma data que escalda

De camuflado e óculos escuros, António Ramalho Eanes, 40 anos, tenente-coronel de Infantaria, faz, de helicóptero, a curta viagem entre a unidade de Comandos da Amadora e o Palácio de Belém, onde o espera o general – e Presidente da República – Francisco da Costa Gomes. Acompanha-o Alípio Tomé Pinto, outro oficial superior, camarada de armas e amigo pessoal. O País fervilha, nesta manhã cinzenta de 25 de novembro de 1975: nas ruas da Grande Lisboa está em marcha um golpe de Estado.

Pouco antes de o aparelho baixar, Eanes coloca sobre o joelho a arma que lhe é atribuída nas suas funções de oficial, uma pistola Walter de nove milímetros. Com voz dura e autoritária, interpela Tomé Pinto: “Não vens armado?” Perante a negativa, Eanes deixa escapar um palavrão. Ele não confia em brandos costumes e levou meses a preparar-se para este momento. Para ele, o Palácio de Belém pode ser uma ratoeira. Os revoltosos da extrema-esquerda militar que, na madrugada desse dia, desencadearam o golpe, parecem estar em vantagem. E não é seguro que o titubeante e ambíguo Costa Gomes penda para o lado dos moderados. Ele tinha especificamente instruído a sua equipa operacional de que não era para facilitar, instruções que, por exemplo, Jaime Neves, chefe dos Comandos, levará à letra, horas mais tarde, como veremos…

Ponto nevrálgico Rendição da Polícia Militar, na Ajuda, última bolsa de resistência das forças da esquerda radical militar, assediada pelos Comandos de Jaime Neves. Em baixo, o PR, Costa Gomes, que teve papel preponderante a evitar a guerra civil, Melo Antunes, que garantiu a sobrevivência no PCP, no pós-golpe, e Ramalho Eanes, comandante das forças moderadas, que seria, um ano depois, aos 41 anos, o primeiro Presidente da República eleito por sufrágio direto e universal

Sabemos, agora, o que Tomé Pinto adivinhara: não haveria qualquer problema em Belém. Costa Gomes, chamado, pelos detratores, o “Chico Rolha”, pela sua capacidade de “flutuar” sobre os acontecimentos, revelar-se-ia, naquele dia, um dos “adultos na sala” e uma figura decisiva, sendo suficientemente firme para garantir o funcionamento das instituições e suficientemente diplomático para que se evitasse o banho de sangue.

O Presidente aguardava o oficial, para concertarem estratégias. A essa hora da manhã, Costa Gomes já sabia que o seu interlocutor era o comandante operacional das forças moderadas e que, tal como ele, tudo faria para evitar a guerra civil. Unidos nesse ponto, analisaram o plano de operações, elaborado pelo tenente-coronel. Pouco depois, Eanes bate a pala e volta para o seu posto de comando. Está tudo a postos.

O almirante sem medo

“É só fumaça, o povo é sereno!” foi uma das frases mais célebres da fundação da democracia

Pinheiro de Azevedo, um dos mais carismáticos oficiais da Armada, pertencente ao núcleo duro do MFA e alinhado com os oficiais moderados do movimento, foi o primeiro-ministro do VI Governo Provisório (pós–gonçalvista). Numa reunião com os líderes partidários, chegou a dar voz de prisão a Mário Soares, quando este discordou da composição do governo, ameaçando retirar o apoio do PS. Intempestivo, franco, transparente, Azevedo alcançou uma rápida popularidade, fruto da sua coragem para enfrentar os excessos revolucionários e da sua capacidade de comunicar diretamente com o povo. Acusado, por manifestantes esquerdistas, de ser “fascista”, gritou, do alto de um palanque: “Badamerda mais o fascista!” Com São Bento cercado pelos metalúrgicos, dominados por ativistas da extrema–esquerda, decretou, a 20 de novembro de 1975, a suspensão de funções do governo. A “greve do governo” durou até dia 28. Na ocasião, justificou, perante as câmaras da RTP: “Já fui sequestrado duas vezes. Não gosto de ser sequestrado, é uma coisa que me chateia, pá!” O seu momento mais célebre deu-se num comício de apoio ao seu governo, quando a Polícia Militar, comandada pelo major radical Mário Tomé, lançou gás lacrimogéneo, para tentar dispersar a multidão, que enchia o Terreiro do Paço. O almirante gritava: “É só fumaça, o povo é sereno!” E a plateia respondeu: “Ninguém arreda pé!”

Às 15h30, recebe luz verde. A ordem surge num documento escrito pelo Presidente da República e chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA): execute-se o plano. Em cima da mesa estão duas hipóteses: ou a ação obtém êxito, logo às primeiras horas, ou o País pode mergulhar na guerra civil. Eanes juntara-se ao grupo dos “homens sem sono”, como ficaram conhecidos os capitães de Abril, durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso). Estivera acordado de 24 para 25 e a vigília há de durar até à manhã de 26. Em termos operacionais, é ele que lidera a equipa que, nas instalações do Estado-Maior, espera, dia 24, pelo final da reunião do Conselho da Revolução (CR), em que é decidida a substituição de Otelo Saraiva de Carvalho, operacional do 25 de Abril e entretanto “radicalizado”. O Grupo dos Nove – já veremos quem são – domina agora o CR, um órgão constituído para garantir a tutela militar sobre a frágil democracia portuguesa e que durará até à revisão constitucional de 1982.

Para o lugar de Otelo, chefe da nevrálgica Região Militar de Lisboa, é nomeado um dos membros mais proeminentes dos Nove (ala moderada), Vasco Lourenço. Eanes chega a sua casa, no Bairro da Madredeus, na zona oriental de Lisboa, já muito tarde. Mal acaba de adormecer, é acordado pela mulher, Manuela Eanes. Ao telefone, informam-no de que, palavras posteriores de Eanes, “o adversário desencadeara uma ação armada que há muito se admitia como provável”. Veste o uniforme e junta duas granadas de mão ofensivas (menos letais do que as defensivas) às mudas de roupa que, há semanas, dentro de uma mochila, aguardavam este momento. Chegou o Dia D. Às primeiras horas, a situação parecia feia. Os paraquedistas, que desde a Base Aérea de Tancos, tinham desencadeado a operação, ocupavam Monsanto e bases importantes. O Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS) tomara posições estratégicas nos acessos norte a Lisboa e junto do aeroporto e controlava o depósito de material de guerra. A Escola Prática de Administração Militar (EPAM) ocuparia, à tarde, a RTP. Vasos de guerra fizeram-se ao largo. É neste quadro que, às primeiras horas da manhã, Eanes vai a Belém. Costa Gomes manda aguardar e faz diligências. Assegura a neutralidade do PCP (aliás, mais ou menos pré-combinada com Melo Antunes, como veremos mais adiante). Depois, seguro da esmagadora superioridade militar de Eanes, que conta com a lealdade das regiões militares norte, centro e sul (ver caixa), além dos Comandos – a única força fiável, que mantém disciplina militar, nestes tempos… –, convence os fuzileiros a não avançar. E exorta os rebeldes a recuar. Outra figura militar conotada com os golpistas, o poderoso comandante do COPCON (Comando Operacional do Continente) é também neutralizado. Chamado a Belém, Otelo Saraiva de Carvalho fica informalmente detido e mantido incontactável. Costa Gomes, tantas vezes diabolizado pela direita, representa, assim, um papel crucial de moderação, na defesa da legalidade. Está evitada a guerra civil.

O fator Jaime Neves

Ao início da tarde, praticamente, só os “paras” de Tancos e a Polícia Militar, na Ajuda, se mantêm no golpe. Às 15h30, Eanes recebe a tal luz verde para avançar. Sob a sua coordenação, os Comandos, chefiados por Jaime Neves, um a um, reconquistam os objetivos: ao fim da tarde libertam as instalações da Força Aérea, em Monsanto. Às 21h10, já depois de os estúdios do Porto terem cortado a palavra a Duran Clemente (ver caixa), é a vez da RTP. Na manhã de 26, Jaime Neves obtém a rendição da PM, o que custa a morte de dois comandos e de um PM.

Vencidos e vencedores Paraquedistas choram a derrota, depois da assembleia de Tancos em que decidiram sair para a rua. Em baixo à direita, Ramalho Eanes com Vasco Lourenço e Marques Júnior

Diga-se, neste ponto, que a ação de Jaime Neves, frente ao quartel da Ajuda, teve valor mais simbólico do que outra coisa. A PM, última bolsa de resistência, nunca foi uma unidade de combate (mas de policiamento), pelo que a ameaça que representava era, basicamente, nula. E, ainda neste ponto, pode dar-se voz à versão do seu comandante, o major Mário Tomé, que rebate, em parte, a narrativa oficial: “A PM, às 8h10 de 26 de novembro, é atacada pelos comandos de Jaime Neves porque o Comando da PM assobiava para o lado quando, pelo telefone, alguns chefes golpistas [quer ele dizer, os moderados] lhe exigiam para se apresentar em Belém. Porquê? Porque sim! Não vamos, ‘estamos de prevenção rigorosa às ordens do PR e CEMGFA’, como aliás todas as unidades da Região Militar! Entretanto a investigação interessada tem-se esquecido de perguntar qual era a ‘forte guarnição’ empenhada na segurança do Presidente da República com a ‘insurreta’ PM a 100 metros, Calçada da Ajuda acima. Ramalho Eanes responderá decerto que se esqueceu desse pormenor…”

Seja como for, ao “final do dia”, em jeito de epílogo, Eanes resume a operação em termos que definem bem a sua “cabeça militar”: “Cerca das 15h30, Costa Gomes deu luz verde. A ação militar iria desenvolver-se num contexto que sempre desejáramos, de rigorosa legitimidade e respeito pela cadeia de comando [a começar pelas ordens do PR e CEMGFA…].”

Os antecedentes

Em março de 1975, começou a circular nalgumas unidades no País uma lista de figuras a abater, o que, rapidamente, se tornou um segredo de polichinelo: aparentemente, os setores mais radicais do MFA pretendiam levar a cabo aquela que ficou conhecida por “matança da Páscoa” (e que, na realidade, nunca ocorreu). Mas a lista, que incluía figuras militares e civis de diversos quadrantes ideológicos não alinhados com o PCP ou com a extrema-esquerda, destinar-se-ia a fazer “sair da toca” as forças da reação que, em surdina, reunidas em torno do general Spínola, planeariam um golpe “de direita”. Fosse como fosse, o objetivo foi atingido, numa espécie de intentona – a que alguns chamaram “inventona” – transmitida em direto pela RTP, com o bombardeamento, por forças paraquedistas, do RALIS situado à saída da capital para a Autoestrada do Norte (que, na altura, apenas se estendia até Vila Franca de Xira com portagem, para os ligeiros, de 5$00, ou seja, dois cêntimos e meio). Aos microfones e perante as câmaras do repórter Adelino Gomes, fica imortalizada a forma como os oficiais desavindos parlamentam: de um lado, Diniz de Almeida, o “Fittipaldi das chaimites” (ver caixa) e, do outro, um oficial das forças revoltosas que, no final da conversa, vê os seus homens depor as armas, por “terem sido enganados”. Bem à portuguesa, os soldados acabam nos braços uns dos outros. Mas o que parecia ter sido um tragicómico equívoco – equívoco que custou a morte ao soldado Luís, no RALIS… – revelou ser uma ação cuidadosamente preparada para permitir um salto em frente na revolução, segundo os cânones leninistas cuidadosamente estudados em Lisboa. Ficou célebre a “Assembleia Selvagem do MFA” e o programa intenso e imediato de nacionalizações, alegadamente, para evitar a fuga de capitais. O 11 de março teria também servido para adiar sine die as “eleições burguesas”, para a Assembleia Constituinte, mas não se chegou a tanto, visto que esse era o compromisso mais emblemático do programa do MFA (de que o major Melo Antunes fora o principal redator).

O grande ausente do PREC

Enquanto moderados e revolucionários mediam forças, durante o Verão Quente, Sá Carneiro convalescia numa moradia no Sul de Espanha (e não em Portugal)

Durante todo o Verão Quente de 1975, Francisco de Sá Carneiro, que fora submetido a uma intervenção cirúrgica na capital do Reino Unido, na London Clinic, esteve ausente do País. Seguindo os acontecimentos à distância, sem contacto com a dura realidade do PREC, insurgia-se contra a estratégia do partido – a assinatura do Pacto MFA-Partidos, a secundarização do PPD nas iniciativas, promovidas pelo PS e destinadas a enfrentar a deriva revolucionária, e o apoio do partido ao Documento dos Nove, divulgado a 7 de agosto de 1975, assinado por nove oficiais moderados, de grande relevo, no MFA, contra a deriva totalitária e a defender a construção de um socialismo democrático. Instado, várias vezes, a regressar para convalescer em Portugal e reassumir a liderança do partido, foi recusando, preferindo instalar-se numa vila do Sul de Espanha. A 15 de maio de 1975, ainda de Londres, respondeu a uma carta de Jorge Ferreira da Cunha (citada no livro Mota Pinto, de João Pedro George, edição Contraponto), recusando regressar, por estar “muito apreensivo” com a situação política. Posteriormente, Sá Carneiro criticou o “seguidismo” do partido relativamente ao PS e aos militares moderados. Com efeito, enquanto Mário Soares, por um lado, Freitas do Amaral, por outro, e figuras como Mota Pinto ou Magalhães Mota (do PPD), ainda por outro, arriscavam a pele em Portugal, Sá Carneiro convalescia na localidade de San Pedro de Alcántara, perto de Marbella, numa moradia arranjada pelo amigo José Harry de Almeida Araújo, presidente do Partido Liberal, organização conotada com o antigo regime. Voltou a Portugal já depois de Pinheiro de Azevedo ter substituído Vasco Gonçalves, a 23 de setembro. O afastamento de Vasco Gonçalves terá contribuído para a decisão de voltar à pátria, em vez de, como terá planeado, rumar ao Brasil.

Mesmo tendo o PS, principal partido a opor-se ao avanço comunista, liderado por Mário Soares, ganhado as eleições confortavelmente (37,87%) e o PPD de Sá Carneiro ficado, com surpresa, não só em 2º lugar, mas muito à frente do “favorito” PCP (26,39% contra 12,46%, num País ainda sem sondagens…), as eleições em nada alteraram, antes reforçaram, a determinação de Álvaro Cunhal de levar por diante uma vanguarda revolucionária que implantasse em Portugal a “ditadura do proletariado”. É curioso notar que Cunhal dera instruções, no entanto, para evitar a palavra “ditadura”, que tinha conotações perversas, depois dos 48 anos de autoritarismo dito fascista, em Portugal. Mais, os ministros comunistas dos governos de Vasco Gonçalves (ver caixa) tinham grandes dificuldades em lidar com os grupos de extrema-esquerda. A lei da Unicidade Sindical (concebida para que apenas uma central sindical, a CGTP Intersindical, controlada pelo PCP, pudesse operar) foi pensada mais para travar os movimentos inorgânicos da extrema-esquerda do que para combater o sindicalismo afeto ao PS ou ao PPD. Ora, esta lei foi o início da longa batalha entre o PS e o PCP e entre Mário Soares e Álvaro Cunhal, o que, a 6 de novembro, desembocaria no célebre debate televisivo entre ambos, na RTP, em que o socialista acusa o adversário de querer impor uma nova ditadura, levando Cunhal a dizer, repetidamente, “olhe que não, olhe que não…”. Por essa altura, já o PS se implantara no terreno dos comunistas, a rua, depois do histórico Comício da Fonte Luminosa, de 19 de junho. Numa conversa com o dirigente centrista, Freitas do Amaral (in O Antigo Regime e a Revolução, Diogo Freitas do Amaral, Bertrand, 1995), Soares disse-lhe: “Eles querem matar-me, mas eu vou resistir.” Álvaro Cunhal, imitando as táticas do partido bolchevique face aos mencheviques, na Rússia de 1917/18, tinha avisado o socialista: “Ou o PS alinha com o PCP no aprofundamento da revolução socialista ou será implacavelmente esmagado.”

Foi neste quadro de crescente confronto que o País entrou, naquele verão, num clima de iminente guerra civil. Reagindo contra o avanço comunista, a extrema-direita organiza uma rede bombista e comete vários homicídios, organizando, também, no Norte e no Centro do País, os assaltos às sedes do PCP e de outros partidos de esquerda. A CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) reúne-se, em Rio Maior, para organizar a reação contra o PCP e, na localidade ribatejana, atravessada, a 70 quilómetros a norte de Lisboa, pela EN1 Lisboa-Porto, aparecem placas onde se lê “Aqui começa Portugal”. E a célebre moca, ainda hoje um artefacto do artesanato local, mas já sem conotações políticas, era brandida pela direita mais caceteira – mas também por eleitores e militantes do PS, indignados com o rumo dos acontecimentos, em Lisboa. De uma certa maneira, este movimento do tipo Maria da Fonte acabou por ser instrumental para as pretensões dos socialistas.

O projeto da FUR

Com a liderança do PCP, criada a 25 de agosto, a Frente de Unidade Revolucionária (FUR) tinha sido constituída, precisamente, como vanguarda de rua, constituída por operários, soldados e marinheiros (como em Moscovo, em 1917). O PCP deixaria cair o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, seu compagnon de route, mas já esgotado por mais de um ano de sucessivos governos provisórios, cada vez menos populares.

Operacional Jaime Neves, (ao centro), conferencia com Morais e Silva, chefe do Estado-Maior da Força Aérea. As suas manobras seriam decisivas

A FUR incluía a LCI (movimento trotskista, onde militava Francisco Louçã, hoje no Bloco de Esquerda), o MDP (partido-satélite do PCP, que representava um papel equivalente ao atual Partido Ecologista os Verdes), a FSP (dissidentes do PS, liderados por Manuel Serra), o PRP-BR (de Isabel do Carmo e Carlos Antunes, mais tarde indiciados e posteriormente absolvidos por atos terroristas), a Organização 1º de Maio e a LUAR (movimento de Palma Inácio, que tinha levado a cabo ações espetaculares contra a ditadura de Salazar e Marcelo Caetano). Os diversos partidos inscreviam-se nas correntes mais díspares – e rivais, no quadro da extrema-esquerda – e faziam a síntese impossível entre leninistas, trotskistas, não alinhados, católicos progressistas e até alguns maoistas. Só a UDP, da linha albanesa de Enver Hoxha, a que depois aderiu o major Mário Tomé (ver caixa), corria em pista própria. A FUR tinha ainda um braço armado clandestino nas Forças Armadas, os SUV (Soldados Unidos Vencerão), encarregado de espalhar propaganda e promover a agitação nos quartéis. Nas conferências de imprensa convocadas pelos SUV, os seus elementos chegavam a apresentar-se encapuzados…

O “Documento dos Nove”

A FUR (rapidamente abandonada pelo PCP, que pressentiu ali um beco sem saída) foi uma tentativa desesperada, decidida a 10 de agosto, durante uma reunião secreta do comité central, em Alhandra, onde Álvaro Cunhal não pôs de lado a tomada do poder por meios não pacíficos. Esta reunião serviu para planear a retoma da iniciativa, depois de, a 7 de agosto, com estrondo, um documento assinado, à cabeça, por nove prestigiados capitães de abril, e conselheiros da revolução – e rapidamente subscrito por muitos outros, incluindo Ramalho Eanes e Salgueiro Maia –, divulgado pelo semanário O Jornal (publicação que daria origem à VISÃO) ter definido uma linha vermelha entre a construção do socialismo pela via revolucionária e a via democrática e pluralista. Embora com uma linguagem claramente à esquerda e comprometida com o ideal socialista não alinhado, típico dos anos 70 – o que motivou uma forte reação contrária de Sá Carneiro, entretanto “refugiado” no conforto da Espanha franquista (ver caixa) –, o Documento dos Nove separava as águas entre os revolucionários e os moderados, que aceitavam eleições livres e a constituição de um parlamento democrático. Mais uma vez, Ernesto Melo Antunes, ideólogo do 25 de Abril, se chegou à frente, para redigir a peça, o que fez com que o texto seja também chamado Documento Melo Antunes.

O papel dos vencedores

Seis nomes incontornáveis para uma história do 25 de Novembro

Ramalho Eanes
Um general político
Por alturas do 25 de Abril, já aderente ao MFA, prestava serviço em Angola. Regressado a Portugal, foi nomeado presidente da RTP, até março de 1975. No verão quente, foi um dos apoiantes do Grupo dos Nove. Liderou as operações militares das forças moderadas, a 25 de novembro. Em 1976, foi o primeiro Presidente da República eleito por sufrágio direto e universal.

Jaime Neves
O operacional
Jaime Neves, notável do MFA, carismático chefe da Unidade de Comandos, cercou a força revoltosa da Polícia Militar, na Ajuda, e pôs termo à última bolsa de resistência. Perdeu dois homens na única escaramuça registada (morreu um soldado da PM). Do ponto de vista militar, a sua ação foi decisiva.

Vasco Lourenço
O avanço do moderado
Substituiu Otelo Saraiva de Carvalho como comandante da Região Militar de Lisboa. A decisão foi tomada no dia 24, véspera dos acontecimentos, contra o parecer de várias unidades alinhadas com os militares da ala esquerda e pode ter precipitado a revolta dos revolucionários.

Melo Antunes
O cérebro dos dois 25
Principal ideólogo do MFA e redator dos dois mais importantes documentos da fundação da democracia, o programa do MFA e o Documento dos Nove (ou Documento Melo Antunes), foi a cabeça do 25 de Abril e do 25 de Novembro e o único oficial com força para garantir a sobrevivência, apesar de tudo, do PCP (ver texto principal).

Pires Veloso
O vice-rei do Norte
O comandante da Região Militar Norte, o brigadeiro Pires Veloso, foi um dos principais travões ao avanço dos revolucionários. Outros comandantes (Região Militar Centro, Franco Charais, Sul, Pezarat Correia, e de Lisboa, Vasco Lourenço) foram também pilares moderados do MFA, neste período.

Mário Soares
O pai da liberdade
Fundador e líder do PS, foi a principal figura civil a opor-se ao PCP e à extrema-esquerda, durante o PREC. Ameaçado de morte, em permanente contacto com os oficiais moderados, mobilizou a sociedade civil contra a nova deriva totalitária e foi o político mais beneficiado pelo 25 de Novembro.

Para a História, os nomes dos outros oito signatários iniciais: Vasco Lourenço, Canto e Castro, Vítor Crespo, Costa Neves, Vítor Alves, Franco Charais, Pezarat Correia e Sousa e Castro. Mas, por detrás do que era visível, as forças moderadas aceleraram, de imediato, o planeamento de um confronto militar entre as duas fações, algo que o grupo de Melo Antunes já considerava inevitável – e tinha em marcha – desde a primavera. E foi aí que entrou Ramalho Eanes, com instruções para ultimar o plano que já vinha a preparar, com a sua equipa, desde maio. Seis meses antes do 25 de Novembro, com voz disfarçada, um sr. Silva já havia ligado para Tomé Pinto, marcando-lhe um encontro discreto, na messe de Santa Clara, onde Pinto estava destacado. O sr. Silva, aliás, Ramalho Eanes, começava a escolher a sua equipa para prevenir o confronto iminente. Tomé Pinto, o companheiro de viagem no helicóptero que já conhecemos…

O encontro secreto Cunhal-Melo Antunes

No dia 25 de novembro, os comunistas receberam instruções da direção do partido para se manterem quietos. Não pelos bonitos olhos da democracia pluralista, mas porque Álvaro Cunhal sabia que, num confronto militar, as forças revolucionárias não teriam hipótese – e os que embarcassem na aventura tinham o caminho político barrado, por muitos anos. Lenine ensinara que, para se dar um salto em frente, por vezes, é necessário um pequeno recuo tático (ver caixa). Na composição parlamentar da Assembleia Constituinte, eleita a 25 de abril desse ano, as forças revolucionárias tinham 36 dos 250 deputados e as forças moderadas 214…

Tudo fora combinado uns dias antes, durante um encontro secreto que Cunhal nunca admitiu mas que outras testemunhas relataram ao biógrafo de Jorge Sampaio, José Pedro Castanheira. Nas vésperas de 25 de novembro, no maior secretismo, elementos do MES, partido de socialistas radicais mas não totalitários, grupo que tinha a simpatia de Melo Antunes, convencem o líder do PCP para um encontro secreto com o chefe dos militares moderados. O encontro dá-se em casa de Nuno Brederode Santos, um dos melhores amigos de Sampaio, cofundador do MES. A reunião, na residência situada na Estrada das Laranjeiras, em Lisboa, foi narrada pelo anfitrião ao jornalista José Pedro Castanheira: “Primeiro, apareceu o Melo Antunes, sozinho. Depois o Cunhal. Após as cortesias normais, retirei-me. No final, fui até à sala e conduzi o Cunhal ao elevador. Melo Antunes ficou mais meia hora comigo. Não revelou nada de concreto, mas disse o suficiente para eu perceber que estava a tirar ilações corretas da conversa.”

“Soares, gay? Isso não cola…”

O rumor que não pegava

O episódio, talvez inédito até hoje, foi-nos relatado por uma testemunha ocular, então oficial miliciano. Numa tempestuosa reunião no quartel-general da 5.ª Divisão, congeminou-se o lançamento de um boato para desacreditar a figura de Mário Soares. A 5.ª Divisão tinha sido constituída, em junho de 1974, por Francisco da Costa Gomes, Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), que viria a ser o segundo Presidente da República da democracia, depois da renúncia de António de Spínola, no final de setembro desse ano. As funções da 5.ª Divisão, rapidamente dominada por militares afetos ao PCP, eram, sobretudo, de propaganda. Nomeadamente, o organismo era responsável pelas ações de dinamização cultural (chamadas, pelos críticos, de ações de catequização comunista) e pelo boletim do MFA. Naquele dia, logo após o comício da Fonte Luminosa, um coronel da 5.ª divisão, propôs o seguinte: “O Mário Soares é que nos anda a lixar [a palavra foi outra]. Vamos espalhar que o gajo é homossexual [a palavra foi outra].” Nessa altura, o comandante Ramiro Correia, também próximo do PCP, opôs-se, por razões de ordem prática: “Isso não vai colar, pá! Toda a gente sabe que o Soares é um grande mulherengo… [e a palavra foi outra…].”

No dia 26 de novembro, Melo Antunes cumpre o que pode ter sido a sua parte do acordo com o líder comunista e trava as aspirações de uma certa direita revanchista. Ele sabe que é, nesse momento, o homem mais influente do País. Numa longa declaração de cerca de 16 minutos, em direto, e de improviso, à RTP, a partir de Belém, onde aproveita para enaltecer o “alto valor militar” de Jaime Neves e dos seus homens, reflete sobre o que se passou, na véspera, como o rebentamento de “um abcesso”. Depois, em 35 palavras fundadoras, define o que será, doravante, a “construção do socialismo”: “Eu quero dizer, neste momento, e considero isso muito importante, que a participação do Partido Comunista Português na construção do socialismo é indispensável. Não me parece que seja possível, sem o PCP, construir o socialismo.” Esta frase cirúrgica não escapa à crítica de Mário Tomé, cujo comentário também indicia desconfianças sobre um pré-acordo entre Melo Antunes e Cunhal: “Melo Antunes apressou-se a caucionar o papel democrático do PCP, mas esqueceu-se das outras forças de esquerda…”

O que está em causa, em 2023

O 25 de Novembro, feito pelos mesmos capitães de Abril que o País já conhecia – e pelos principais, se excetuarmos Otelo, Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho – repôs os ideais de abril, recentrou o cumprimento do programa do MFA e lançou as bases do regime democrático, com a intenção expressa de encontrar uma via para “a construção do socialismo”. Então, porque quer a direita apropriar-se da data? Em primeiro lugar, porque celebra a derrota da extrema-esquerda e do projeto do PCP. Em segundo lugar, por falta de comparência de todos os outros democratas, socialistas incluídos. Segundo fontes do PSD, a intenção de Carlos Moedas, ao anunciar comemorações oficiais, na Câmara Municipal de Lisboa, “é a de integrar as forças democráticas e retirar o protagonismo ao Chega, que se apropriou, ilegitimamente, da bandeira do 25 de Novembro”.

Já António Costa, tinha 14 anos, em 1975, e iniciava-se na atividade política. No dia 25 de novembro desse ano, o arco da governação, composto por PS, PSD e CDS, começava o seu longo ciclo e os comunistas eram banidos do poder. Até que, em 2015, o mesmo António Costa anuncia o “derrube do muro”. O que, segundo fontes do PS, não alinhadas com a atual direção, “pode explicar as reticências do partido em juntar-se às comemorações de uma data na qual foi, politicamente, o principal beneficiado”.

Ou seja, nos próximos tempos, nenhum helicóptero irá aterrar nos jardins do Largo do Rato. 

Ai dos vencidos!

A 25 de novembro, um modelo de sociedade foi derrotado. Alguns sobreviveram ao desastre – outros desapareceram do “radar”

Otelo Saraiva de Carvalho
Confinado em Belém
Carismático comandante operacional do 25 de Abril, liderou o poderoso COPCON (Comando Operacional do Continente), principal força da esquerda militar radical. Acabou por escolher ficar detido no Palácio de Belém, durante a crise, não dando ordem às suas tropas para atacar. Candidato às presidenciais de 1976, sem apoio de nenhum dos grandes partidos, conseguiria o 2.º lugar, com 16,5% dos votos.

Duran Clemente
Olá e adeus, na RTP
Com o seu ar de Che Guevara, este capitão da 5.ª Divisão e, depois, da EPAM, surpreendeu os portugueses, a 25 de novembro, à hora do jantar, na RTP, a partir dos estúdios do Lumiar, como porta-voz dos radicais – mas a palavra foi-lhe cortada pelos estúdios do Porto, que puseram no ar uma comédia de Danny Kaye. E um dos rostos mais simpáticos dos revoltosos acabou por ser, assim, o rosto da derrota.

Diniz de Almeida
Fórmula 1 que gripou
O chamado “Fittipaldi das chaimites”, por se deslocar em Lisboa nestas viaturas militares (Fittipaldi era o conhecido campeão brasileiro de F1), aguardou, na sua unidade, o RALIS, ordens de Otelo e do Copcon para avançar, limitando-se a ocupar posições estratégicas na sua área de ação. Mas a ordem nunca chegou. No 11 de março vencera, agora estava do lado dos vencidos.

Mário Tomé
O último resistente
Já com as unidades revoltosas da esquerda militar dominadas, este major, comandante da Polícia Militar, mantinha a posição (diria, mais tarde, aguardar ordens de Belém – ver texto principal). Os Comandos de Jaime Neves forçaram a rendição. Seria, depois, dirigente e deputado da UDP.

Álvaro Cunhal
O líder pragmático
Não tendo sido um vencedor, a 25 de novembro – o modelo de sociedade que defendia foi definitivamente derrotado, em Portugal –, soube manobrar para garantir a sobrevivência do PCP, recusando alinhar numa aventura esquerdista sem hipóteses de sucesso. Mas ao clássico “pequeno recuo” nunca se sucedeu o grande avanço que terá desejado…

Vasco Gonçalves
O rosto do PREC
Primeiro-ministro do 2.º ao 5.º governo provisório, caiu com estrondo, depois de um célebre comício, em Almada, e quando o PCP, do qual era “companheiro de estrada”, percebeu que a solução se tinha esgotado. Voluntarioso, inteligente, carismático, do seu período ficou cunhada, para a História, a expressão “gonçalvismo”.

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