Ainda o jornal Público não tinha chegado às bancas e já o artigo assinado por António Costa, José Leitão e Pedro Silva Pereira circulava pelos WhatsApp dos socialistas. O texto “em defesa da honra do PS” era a machadada final na fragilização de Ricardo Leão enquanto líder da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS. Disso ninguém tinha dúvidas. Na véspera, uma reunião da concelhia de Lisboa do PS, a propósito do Orçamento do Estado, tinha revelado as divisões em torno das polémicas declarações de Leão que, como presidente da Câmara de Loures, aprovou uma recomendação do Chega para retirar casas municipais a pessoas que se tenham envolvido nos desacatos que ocorreram após a morte de Odair Moniz, um cidadão negro baleado pela PSP na Cova da Moura. O desconforto com a aproximação ao discurso do Chega era maioritário nas hostes socialistas, mas havia também muitos dispostos a entender as razões do autarca de Loures e a desvalorizar o que disse. O ataque de António Costa foi a gota de água.
De manhã cedo, Pedro Nuno Santos já tinha a carta de demissão de Ricardo Leão. Mas, mais uma vez, decidiu deixar o anúncio nas mãos de Leão, sempre com o intuito de não fragilizar o partido. Leão só anunciou que deixava a liderança da FAUL perto da hora de almoço. Antes de o fazer, Duarte Cordeiro, talvez a pessoa mais influente na máquina do partido em Lisboa, falou à VISÃO para arrasar António Costa. “Acho o artigo arrogante e desnecessário”, disse Duarte Cordeiro, dando voz aos que em surdina se indignavam não só pela forma como o antigo secretário-geral, de uma penada, fragilizava Ricardo Leão e Pedro Nuno Santos (em relação ao qual havia no texto uma alusão velada ao seu alegado “taticismo” na gestão desta polémica) mas também pelo modo como Costa baseava o seu argumentário sobre a matriz humanista do PS nas políticas de integração e imigração, quando o tema nunca tinha sido levantado por Ricardo Leão.