De candidato presidencial à provável expulsão da IL. O mundo de Tiago Mayan Gonçalves, 47 anos, virou-se do avesso. A notícia caiu como uma “bomba”: depois de ter admitido a falsificação da ata de uma reunião com o júri do fundo de apoio ao associativismo, Mayan pediu a demissão da autarquia. O ex-candidato à Presidência da República, apoiado pela Iniciativa Liberal, desistiu da corrida à liderança do partido, anunciada em julho. Rui Rocha divulgou a abertura de um processo disciplinar – a pena provável é a expulsão da IL. E Mayan pode ainda responder criminalmente pelos seus atos.
Tudo começou no gabinete da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde (Porto), da qual era presidente desde setembro de 2021. Por qualquer razão, Tiago Mayan Gonçalves não cumpriu o prazo para a entrega das candidaturas das associações da freguesia ao fundo de apoio ao associativo portuense, da Câmara Municipal do Porto (que terminava a 30 de junho). A falha poderia fazer com que as associações de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde ficassem sem possibilidade de concorrer ao “bolo” anual de €875 mil (máximo de €120 mil por freguesia).
No início de setembro, a Câmara Municipal do Porto notificou a junta de freguesia para que esta enviasse a documentação até ao dia 20 desse mês, de forma a poder aprovar os respetivos contratos. Alertado para a falha, Mayan decidiu, então, improvisar. Não admitiu o erro, tentando colocar o ónus no júri. Numa reunião online com o júri do fundo de apoio ao associativismo, o liberal assegurou que “já tinha enviado a minuta do referido relatório há 15 dias, por email”. As dúvidas levaram ao agendamento de uma reunião presencial, entre as partes, realizada na passada quarta-feira, onde o júri pôde constatar a existência de uma ata, nos servidores da junta de freguesia, cujo teor responsabilizava o mesmo pela dispensa de documentação e incumprimentos dos prazos. Confrontado diretamente, Mayan admitiu ter falsificado as assinaturas dessa ata.
Na noite de quinta-feira, Tiago Mayan Gonçalves demitiu-se do cargo. “Tomei hoje a decisão, bastante difícil, de dele abdicar”, escreveu, num comunicado. O agora ex-presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde admitiu “inteira responsabilidade” por este desfecho. “Apenas a mim me vincula, eximindo dessa responsabilidade os restantes elementos do executivo ou quaisquer funcionários, que nunca tiveram qualquer conhecimento ou interferência direta ou indireta nos atos ou omissões que cometi”, acrescentou.
Rui Rocha manifesta “repúdio total”
Apoiado pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves foi candidato nas Presidenciais de janeiro de 2021 – obteve 134 427 votos, ficando no 6.º lugar na votação que valeu a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
A subida de Rui Rocha à liderança afastou-o da cúpula do partido. Em junho, Mayan chegou mesmo a anunciar a sua candidatura à presidência da IL, por estar insatisfeito com o rumo do partido e entender que este precisava “de alcance, amplitude e arrojo”. Na sequência da polémica do momento, o ex-presidenciável retirou-se desta corrida.
Entretanto, a direção da IL reagiu manifestando “repúdio total” por estes acontecimentos. Rui Rocha anunciou que os factos imputados a Tiago Mayan Gonçalves são “graves” e representam “condutas inaceitáveis”. O presidente dos liberais portugueses anunciou que já foi aberto um processo disciplinar para apurar “responsabilidade” e “consequências”. O futuro de Mayan no partido fica nas mãos do Conselho de Jurisdição Nacional da IL, que, curiosamente, o mesmo presidiu entre 2017 e 2020 – o mais provável é mesmo a pena de expulsão do partido. Rui Rocha referiu ainda que “ninguém está a cima da lei”, pedindo às autoridades judiciais que “investigarem” e “agirem em conformidade”.
O PS Porto também reagiu, anunciando que quer uma auditoria à junta de freguesia, até aqui, presidida por Mayan.