O episódio do “irrevogável”, o caso dos swaps e, agora, o relatório da Inspeção Geral de Finanças que a envolve, indiretamente, na problemática privatização da TAP, em 2015. A sétima personalidade, em 38 anos, a representar Portugal, na Comissão Europeia parece estar a construir a sua força e reputação a partir da polémica. Voluntariamente ou não, Maria Luís Albuquerque, 56 anos (a segunda comissária mais velha depois de Elisa Ferreira, que foi nomeada com 64), como que se alimenta das tempestades políticas para crescer. Em 2013, ao ser nomeada ministra das Finanças (substituindo Vítor Gaspar) esteve no centro da crise interna mais grave dos governos de Pedro Passos Coelho. Em 2024, o seu nome, indicado para a Comissão Europeia, é o menos consensual dos sete magníficos que até hoje ocuparam o cobiçado cargo de Bruxelas. Não fará de propósito – mas se algum mérito Maria Luís tem é o de não deixar ninguém indiferente.
Ainda não se sabe que pasta a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, vai entregar à segunda comissária portuguesa mulher. A política alemã, aliás, que também estreou o cargo de presidente da CE no feminino, só trabalhou com comissárias portuguesas (antes de Maria Luís, a socialista Elisa Ferreira), enquanto os seus antecessores, Jacques Delors, Jacques Santer, Romano Prodi e Jean-Claude Juncker só trabalharam com homens, nomeados por sucessivos governos portugueses, liderados por Cavaco Silva, António Guterres, Passos Coelho e António Costa. Durão Barroso foi, ele próprio, desafiado pelos pares a presidir à Comissão, Pedro Santana Lopes e José Sócrates foram contemporâneos do presidente português da CE e não lhes coube nomear nenhuma outra individualidade. De resto, Cavaco Silva nomeara, consecutivamente, dois nomes (António Cardoso e Cunha e João de Deus Pinheiro). António Guterres patrocinou António Vitorino. Passos Coelho enviou Carlos Moedas. E António Costa indigitou Elisa Ferreira.