Ana Paula Martins já andava pelos corredores do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, muito antes de chegar ao Conselho de Administração. Com a bata de voluntária, a agora ministra da Saúde ajudava doentes a não se perderem no caminho para a casa de banho, distribuía comida e falava com quem precisava. Ana Paula tirou o curso de Farmácia, mas nunca escondeu que a sua verdadeira vocação era ser médica. “Foi para Farmácia porque não tinha nota para entrar em Medicina”, conta à VISÃO um amigo próximo, explicando que a ministra nunca teve problemas em assumir isso e até já o disse num encontro na Ordem dos Médicos, quando era bastonária dos farmacêuticos. A plateia gostou de ouvir o discurso sobre a importância de basear o sistema de saúde nos médicos e acabou aplaudida de pé.
Mais fria foi a reação dos administradores hospitalares quando, no dia 12 de junho, Ana Paula Martins não lhes poupou críticas numa audição parlamentar. “Nós temos lideranças fracas. Nós precisamos de lideranças à frente dos hospitais e à frente dos serviços que sejam mobilizadoras, que atraiam os jovens profissionais, que os tratem bem. Nós não tratamos bem as pessoas na Administração Pública. Os nossos departamentos de recursos humanos demoram meses a responder a um médico, a um farmacêutico, a um TSDT [Técnico Superior de Diagnóstico e Terapêutica], isto não é aceitável”, disse a ministra, antes de atacar, sem nomear o hospital, a forma como Viseu deixou de ter urgências de Pediatria depois da recusa dos pediatras de fazerem mais horas extraordinárias. “E não se fez nada? Esteve-se até agora à espera que fechasse a urgência de Pediatria? Isto são bons líderes? Não, não são”, criticou.