Cristina Pinto Dias tem sido apontada como a Alexandra Reis do Governo da AD. A secretária de Estado da Mobilidade tem estado no centro de uma polémica por ter recebido uma indemnização por rescindir o contrato com a CP na véspera de ir trabalhar para a AMT (Autoridade da Mobilidade e dos Transportes). Rui Rocha, líder da IL, trouxe o caso para o debate quinzenal com o primeiro-ministro, e Luís Montenegro fez uma defesa cabal da governante, mesmo depois de o PSD ter feito oposição ao PS por causa da indemnização paga pela TAP a Alexandra Reis.
“Sim, considero que agiu com os princípios éticos que se deviam aplicar naquela situação, não obteve nenhuma vantagem diferente das que vigoravam à época na empresa em causa”, afirmou Luís Montenegro.
O primeiro-ministro tenta, assim, conter um caso que já obrigou a secretária de Estado a vir dar explicações ao Parlamento e que levou o PS a pedir a sua demissão.
“Sim, considero que agiu com os princípios éticos que se deviam aplicar naquela situação, não obteve nenhuma vantagem diferente das que vigoravam à época na empresa em causa”, afirmou Luís Montenegro
Semelhanças e diferenças entre Cristina Pinto Dias e Alexandra Reis
Cristina Pinto Dias recebeu em 2015 uma indemnização de 80 mil euros depois de ter saído da CP por sua própria iniciativa, quando no caso de Alexandra Reis, os 500 mil euros de indemnização serviram para compensar a gestora pela saída antes do final do mandato por pressão da então CEO da TAP.
No caso de Cristina Pinto Dias, o valor foi calculado com base numa tabela que estava a ser usada para compensar os trabalhadores que rescindissem com a CP, tendo em conta os 18 anos de serviço de Pinto Dias. Esse tem sido, aliás, o argumento da secretária de Estado para afastar a ideia de qualquer tratamento de privilégio, apesar de a decisão da compensação ter sido tomada numa reunião extraordinária do Conselho de Administração, marcada em tempo record.
Enquanto Alexandra Reis foi, na prática forçada a sair da TAP, tendo negociado uma compensação, Cristina Pinto Dias saiu de moto próprio, como tem notado a IL, que já pediu uma auditoria aos pagamentos feitos a gestores públicos nos últimos 20 anos.
Cristina Pinto Dias aderiu a um programa de rescisões amigáveis aberto pela CP, quando já sabia que iria para a AMT, tendo defendido na Assembleia da República que essa foi uma decisão de risco, uma vez que saía para um mandato único nessa entidade, rescindindo o vínculo de quadro que tinha na empresa em que trabalhou durante 18 anos e na qual esteve na administração nos dois últimos anos de serviço. Mais: Cristina Pinto Dias assumiu em audição que só iniciou o processo de rescisão depois de ter como certo o lugar na AMT, tendo já parecer positivo da CRESAP para assumir funções.
Alexandra Reis foi demitida para “preservar autoridade política” do Governo
“Não saí de uma empresa pública para outra empresa pública. Eu não saí da CP para ir para a TAP. Saí de um emprego para a vida para ir fazer um mandato único na AMT. Abandonei a minha carreira e o meu lugar de recuo para fazer um mandato único e irrepetível”, disse a secretária de Estado de Pinto Luz quando foi ouvida no Parlamento.
Em nenhum momento, a governante da AD informou a CP do cargo que ia ocupar. “Não foi perguntado a mim, nem às 420 pessoas que saíram da CP, o que iam fazer a seguir. Não era importante”, defendeu.
Já Alexandra Reis, tanto quanto foi possível apurar através da Comissão Parlamentar de Inquérito feita sobre o caso, saiu da TAP numa altura em que não tinha ainda sido chamada para funções na NAV.
Alexandra Reis foi demitida por Fernando Medina, menos de um mês depois de ter sido nomeada secretária de Estado do Tesouro, para, como explicou Medina na altura, “preservar a autoridade política do Ministério das Finanças num momento particularmente sensível na vida de milhões de portugueses”.