Um grupo encabeçado pelo ex-juiz Rui Fonseca e Castro invadiu, ontem à noite, uma sessão sobre questões de género e orientação sexual, que decorria no auditório da Casa do Tempo, em Cabeceiras de Basto, no distrito de Braga.
O cabeça de lista do Ergue-te às europeias, acompanhado de, pelo menos, mais três membros da associação Habeas Corpus, interrompeu a iniciativa, acusando os organizadores de “promover a homossexualidade, a degeneração e a desconstrução da família”. Uma das principais visadas foi a vereadora Carla Lousada.
Seguiram-se momentos de tensão entre os presentes, com trocas de insultos e ameaças de violência física. A GNR foi chamada ao local e retirou os invasores do auditório.
Nas redes sociais, Rui Fonseca e Castro reagiu, numa texto curto, confirmando ter invadido o evento, que descreveu como sendo “de promoção da homossexualidade” e “suportado com o dinheiro dos contribuintes”. “Há cinquenta anos que somos tratados como meros contribuintes (escravos), que não têm uma palavra a dizer sobre onde e como o dinheiro deve ser gasto. Isso vai acabar. Começou ontem”, lê-se na mensagem.
Rui Fonseca e Castro, 48 anos, tornou-se uma figura popular junto dos movimentos negacionistas da Covid-19, a partir de outubro de 2020, por contestar as versões oficiais sobre a pandemia e a sua gestão pelo Governo português, o que lhe valeu a alcunha de “juiz negacionista”. Suspenso pelo Conselho Superior da Magistratura (CSM) na sequência das suas declarações, seria expulso da magistratura no final do processo.
O também advogado (inscrito em Portugal e no Brasil) está ainda acusado pelo Ministério Público (MP) por crimes de ofensa contra a honra de Ferro Rodrigues e de calúnia por difamação do ex-diretor da PSP, Magina da Silva. Rui Fonseca e Castro vai ainda a tribunal pela discussão com agentes da PSP, ocorrida à entrada do CSM, que ocorreu antes de ser ouvido em audiência por aquele órgão, no âmbito do processo que levaria à confirmação da sua demissão. É ainda acusado por ofensas à PSP e à ASAE.
O ex-juiz – demitido da magistratura no dia 7 de outubro de 2021 – vive, hoje, em Ponte de Lima (Viana do Castelo), e lidera a associação Habeas Corpus, seguida por todo o tipo de extremistas, incluindo mercenários, neonazis e cadastrados, alguns com treino paramilitar, formação em artes marciais e acesso a armas ilegais, como contou a VISÃO, num artigo de investigação, publicado em fevereiro de 2023, da autoria do jornalista Miguel Carvalho.