Um grupo de cidadãos ucranianos apresentou, esta sexta-feira, uma queixa por “abuso de autoridade” contra a PSP de Coimbra. Os queixosos dizem ter sido “travados” e “empurrados” pela polícia quando tentavam entrar numa sessão pública de apresentação do livro “A Guerra a Leste – 8 meses no Donbass”, da autoria do jornalista Bruno Amaral de Carvalho, que decorreu, na quinta-feira, na Casa Municipal da Cultura daquela cidade.
O livro de Bruno Amaral de Carvalho conta as suas experiências como repórter de guerra no Donbass – região que, desde 2014, é palco de um conflito entre a Ucrânia e a Rússia –, mas tem motivado polémica e descontentamento junto de ucranianos a residir em Portugal, que acusam o jornalista português de “assumir posições pró-russas”.
Como já tinha acontecido em Lisboa, nesta quinta-feira, um grupo de 30 ucranianos marcou presença à porta da Casa Municipal da Cultura de Coimbra para se manifestar contra o livro. A luso-ucraniana Olga Filipova garantiu, à VISÃO, que a iniciativa decorreu “de forma pacífica”, à porta do edifício, mas acusa a polícia de ter “impedido e expulsado com violência” os manifestantes quando estes tentaram entrar na sala onde iria decorrer a sessão. A queixa deu entrada esta manhã no Comando Distrital de Coimbra da PSP.
“Estava a correr tudo bem. Gritámos palavras de ordem como ‘Russia is a terrorist state’ [A Rússia é um Estado terrorista] ou ‘Stop russian propaganda’ [Parem a propaganda russa]. Cantámos ‘Grândola, Vila Morena’. Depois, como se tratava de uma sessão pública de apresentação, decidimos entrar no edifício. O livro é sobre a Ucrânia e nós somos ucranianos. Havia dois ou três polícias no local, que nos travaram logo nas escadas, e pediram-nos para aguardar. Depois de pedirem indicações aos organizadores, disseram-nos que não podíamos entrar e que tínhamos de sair dali. Chamaram os reforços, que nos empurraram com violência”, acusa Olga Filipova.
A luso-ucraniana, de 42 anos, faz parte da Associação de Ucranianos em Portugal. Em maio de 2023, esta ativista assinou um artigo de opinião (com Viacheslav Medviedev), publicado no Observador, em que acusou a Universidade de Coimbra (UC) de ser “um espaço para transmitir a propaganda imperial russa e a cultura que criou a Rússia moderna”. Na sequência do artigo, o então diretor do Centro de Estudos Russos, Vladimir Pliassov, viu o seu vínculo com a UC ser terminado.
O jornalista Bruno Amaral de Carvalho tem-se destacado a acompanhar a guerra na Ucrânia, a partir do lado controlado pelo invasor russo. O seu trabalho, publicado nas redes sociais, mas também em órgãos de comunicação social (como CNN Portugal ou Público), tem motivado polémica e discussão junto da opinião pública. Bruno Amaral de Carvalho tem apontado o dedo ao que diz ser a “incorporação de nazis” no exército ucraniano e “crimes” contra civis cometidos pelo governo de Volodymyr Zelensky. A posição do jornalista português vai ao encontro da defendida por elementos do PCP, partido que integra a CDU, coligação pela qual foi eleito para a Assembleia Municipal da Amadora, nas últimas eleições autárquicas, em setembro de 2021.