A coligação do PSD, CDS e PPM venceu as eleições nos Açores, quase quatro meses depois de ter visto o seu orçamento chumbado no Parlamento regional. Só que, se em 2020 precisou de ter o apoio da IL e do Chega para formar uma solução governativa, o social-democrata José Manuel Bolieiro têm a partir desta noite de domingo apenas duas soluções para continuar à frente do Governo: ou estabelece um acordo com o Chega, que aumentou a sua força na Assembleia Legislativa açoriana, ou fica à espera de saber até que ponto o PS pode viabilizar a sua gestão.
Fechadas as contas, com a distribuição dos deputados pelo círculo da compensação, a coligação liderada pelo PSD teve 42,1% [26 deputados], o PS 35,9% [23], o Chega 9,2% [5], BE com 2,5% [um deputado], a IL 2,1% [um deputado] e o PAN obteve 1,6%, [também um deputado].
Dois dias depois, quando encerrou a campanha eleitoral, de ter recusado a entrada do Chega num Executivo, José Manuel Bolieiro poderá ser obrigado a equacionar tal solução governativa ou, pelo menos, a ter de ceder ao partido liderado por André Ventura. A coligação de direita ficou a três deputados para ter uma maioria absoluta parlamentar.
Em Ponta Delgada, na reação à vitória desta noite eleitoral, Bolieiro mandou primeiro uma mensagem ao Chega, ao dizer que a coligação de direita “não depende de chantagens” para governar, mas logo depois avisou os socialistas que terão de explicar aos açorianos se perigarem a gestão de “uma maioria relativa”.
Antes dessas palavras, acabou por ser o líder do PSD, Luís Montenegro, a tomar a dianteira entre os vencedores das eleições regionais – tal como fez nas eleições na Madeira – e a apontar que, “não obstante não ter havido uma maioria absoluta da coligação, só pode haver um Governo alternativo se todas as outras forças políticas, e em particular duas – PS e Chega – se unirem; se coligarem”.
Todavia, ao assumir a derrota eleitoral, o líder regional socialista, Vasco Cordeiro, recusou dar já um sinal sobre a posição que o PS/Açores irá adotar: “Todas as decisões que houver para tomar sobre essa matéria e reflexões serão feitas no tempo e no local próprios”. Quando confrontado com a necessidade de o PS para travar o Chega, o antigo presidente do Governo açoriano, que foi afastado do poder em 2020, preferiu dizer que “este não é nem o tempo, nem o lugar próprio” para tal. Sendo certo que Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, fez questão de, a partir do Largo do Rato, atirar para os socialistas açorianos essa decisão – deixando claro que, se nas legislativas de 10 de março, ganhasse a AD, o PS não serviria de suporte a uma gestão de direita. “Quando o PS ganha, ganha todo o PS. Quando o PS perde, perde todo o PS e hoje nós perdemos”, salvaguardou, ainda assim.
Já André Ventura, que teve palavras menos agressivas que José Pacheco, responsável regional do Chega, preferiu sinalizar que “só haverá estabilidade governativa nos Açores se houver acordo de governo para os próximos quatro anos. Vamos trabalhar a partir de hoje, e amanhã, para que esse acordo seja possível”, concluiu.
Tendo em conta a diminuição da abstenção nestas eleições, que contrariou um cenário habitual nas regionais açorianas, quase todas as forças políticas aumentaram a votação, relativamente a 2020. Só o BE, que se tornou o quarto partido mais votado, é que perdeu em número de eleitores e deixou de ter uma bancada parlamentar. Quanto à CDU, que ficou sem representação na Assembleia Regional há quase três anos e meio, até aumentou a sua votação, mas não o suficiente para conseguir regressar ao hemiciclo.
Refira-se que a coligação de direita obteve o mesmo número de deputados que tivera em 2020: 26.