Pedro Nuno Santos cumpriu a profecia e lançou a sua candidatura à liderança do PS, já a falar para o país. “Num momento difícil para a democracia e para o partido”, o ex-ministro das Infrastruturas prometeu não ficar refém da tempestade causada pela operação Influencer e trazia já na ponta da língua as suas prioridades e uma amostra de oposição à direta.
“O PS não vai passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial (…). O nosso dever é preparar uma política para o país”, defendeu, durante a apresentação da sua candidatura às diretas do Partido Socialista, nesta segunda-feira, na sede do partido, no Largo do Rato, em Lisboa, que se encheu para apoiar o deputado.
Salários dignos, a valorização do interior e a solução para a crise da habitação são, para já, as suas principais bandeiras numa campanha que rejeita que venha a ser polarizada. “O que está em causa não é uma disputa entra a moderação e o radicalismo, é antes quem num dado momento está capaz de unir o partido”, argumentou.
Na plateia, que se acotovelava para ver Pedro Nuno Santos, estava João Costa, ministro da Educação; Francisco Assis, ex-deputado e presidente do Conselho Económico e Social; Eduardo Cabrita, ex-ministro da Administração Interna; João Paulo Rebelo, ex-secretário de Estado do Desporto; José Abraão, líder da Frente Sindical da Administração Pública; e vários deputados socialistas, entre eles, Isabel Moreira. Além de autarcas, dirigentes socialistas e representantes das estruturas partidárias.
Pedro Nuno Santos elogiou António Costa, recordando-o como o homem que conseguiu unir a esquerda e evitar que a “direita que não cumpre as suas promessas” regressasse ao poder. Atacou ainda Montenegro, acusando-o de prometer em vão que não fará acordos com o Chega. “A direita não tem credibilidade”, sentenciou.
Já em defesa de causa própria, Pedro Nuno Santos apresentou-se como sendo um homem de pontes, de diálogo, de acordos, com provas dadas e erros assumidos. “Conhecem a minha vontade de fazer acontecer, os meus erros e as minhas cicatrizes”, assumiu, acrescentando que “quem aprende com os erros está melhor preparado para lidar com os problemas no futuro”.
Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas e Habitação, regressou à Assembleia da República como deputado em julho, seis meses depois de se ter demitido do Governo para “assumir a responsabilidade política” do caso da indemnização de 500 mil euros paga pela TAP à ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis. Pedro Nuno Santos foi ainda secretário-geral da Juventude Socialista (JS), entre 2004 e 2008, e secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares durante o primeiro o Governo da “Geringonça”.
Posicionado na ala mais à esquerda do partido, há pelo menos cinco anos – desde o Congresso de 2018 – que o seu nome é falado como candidato a substituir António Costa. É o mais bem posicionado nesse sentido, uma vez que nas semanas que antecederam à revelação da operação Influencer – à consequente demissão do primeiro-ministro e antecipação das legislativas para março – tornou-se comentador televisivo na SIC, o que deu mais eco às suas ideias (nem sempre coincidentes com as do Governo).
O deputado eleito por Aveiro irá defrontar na corrida interna o ministro da Administração Interna e ex-secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, tido como o candidato da ala mais moderada do PS.