O primeiro-ministro exonerou, esta quinta-feira, o seu chefe de gabinete, Vítor Escária, arguido e detido na operação Influencer, avançou a RTP. O major-general Tiago Vasconcelos, assessor militar de António Costa, irá substitui-lo no imediato.
Vítor Escária foi detido e alvo de buscas na terça-feira, tendo a PSP, o juiz de instrução e o procurador Rosário Teixeira encontrado 75.800 euros em dinheiro, distribuídos em envelopes, livros e em caixas de vinho no seu escritório do gabinete do primeiro-ministro.
Já esta manhã, Tiago Rodrigues Bastos, advogado de Vítor Escária defendeu, em declarações aos jornalistas, à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal, no Campus de Justiça, em Lisboa, que “é importante que não se desvie a conversa, não se desvie o objeto dos autos para um facto absolutamente lateral, que não tem rigorosamente nada que ver com a imputação, como ela está desenhada e concebida”.
“Esse facto [o dinheiro encontrado] não tem nenhuma relação com o que estamos aqui a tratar e nem tem nada a ver com algo ilegal”, continuou, acrescentando ainda que este dinheiro se refere a uma atividade profissional “anterior às funções que exerceu”. Segundo a CNN, tratar-se-á do pagamento de um trabalho feito em Angola, pago em dinheiro.
Vítor Escária chegou ao gabinete do primeiro-ministro após ter colaborado com o líder socialista, quando aquele era presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e ter sido um dos técnicos a elaborar o cenário macroeconómico, dirigido por Mário Centeno, que serviu de base ao programa eleitoral do PS, nas legislativas de 2015. Tornou-se, assim, assessor económico do primeiro-ministro nos tempos da Geringonça, tal como fora de José Sócrates. Aliás, chegou então a ser um dos membros da equipa governamental que negociou com a Troika o memorando do resgate financeiro, em 2011.
Demitiu-se, em 2017, ao ser um dos arguidos do Galpgate, o caso das viagens nos jogos do Euro2016, pagas pela petrolífera nacional. Todavia, Costa nunca terá prescindido do seu trabalho enquanto consultor, até agosto de 2020, altura em que regressou como chefe de gabinete, já que Escária se livrou daquele processo, ao pagar €1 200 ao Estado pelas viagens de que usufruíra com a mulher, ou seja: na verdade, nunca deixou de ser o braço-direito do líder socialista.
Aos 52 anos, casado e com três filhos, Escária era atualmente coordenador dos mestrados do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa, onde se formou, foi o melhor aluno do curso e era a docente. Doutorou-se em York, no Reino Unido, na mesma área de especialização em Economia do que Cavaco Silva, que também passou por aquela universidade.
O Galpgate não foi a primeira vez que esteve na mira da Justiça: por ter conhecimento próximo do processo de venda de casas à Venezuela do Grupo Lena – em que Sócrates se tornou suspeito de ter atuado como facilitador enquanto chefe do governo –, chegou a estar sob escuta e a ser ouvido como testemunha no âmbito da Operação Marquês. Mas nunca foi indiciado. Após as legislativas de 2011, além da docência, atuou na área da consultadoria com outros ex-membros do gabinete de Sócrates.