“No estado da nação deixe de estar em estado de negação”, pediu o líder da bancada social-democrata, Joaquim Miranda Sarmento, ao primeiro-ministro, logo na primeira hora de quatro do debate parlamentar sobre o Estado da Nação, nesta quinta-feira. E a declaração pode facilmente servir de síntese à conversa de surdos travada entre os partidos da oposição e o Executivo.
António Costa abriu o debate a defender a pujança da economia em “crescimento” e as soluções encontradas para os problemas diários da população, como a inflação, a habitação ou a saúde. Num balanço que dificilmente poderia ser mais cor-de-rosa, o chefe de Estado defendeu que “os portugueses estão melhores e o país está a melhorar”, sublinhando que, apesar da pandemia, da Guerra na Ucrânia, da inflação, Portugal “teve no primeiro trimestre [de 2023] o terceiro maior crescimento da União Europeia”, atingiu “emprego em máximos históricos”, a produtividade cresceu, assim como as exportações, o turismo, o investimento estrangeiro, a aposta na inovação, na investigação e no desenvolvimento. Tudo isto, “fruto do trabalho dos portugueses, das empresas e das boas políticas do Governo”, que a oposição insistiu em não reconhecer.
Já Joaquim Miranda Sarmento contrariou o primeiro-ministro com o aumento dos portugueses sem acesso a médico de família, impostos elevados, a “duplicação das prestações no crédito à habitação”, a “queda dos salários reais em 4%, em 2022” e com um estudo, assinado pelo economista especializado em saúde Pedro Pitta Barros, que revela que metade dos pensionistas não conseguem comprar todos os medicamentos de que precisam.
“Se com José Sócrates os portugueses conheceram a bancarrota socialista, com António Costa os portugueses sofrem o empobrecimento socialista” , atirou o líder da bancada social democrata. “Os portugueses à míngua, com dificuldades, e o Governo a encher os bolsos com o dinheiro. O senhor tira em impostos e com a mão socialista serrada devolve um poucochinho”, continuou, levando, por momentos, o primeiro-ministro a reconhecer, em resposta, que “as famílias têm problemas, as empresas têm problemas, os serviços públicos têm problemas””.
Rui Rocha, deputado e líder da IL, pegou também no novelo que o PSD começou a desfiar, insistindo novamente na crise da saúde e acusando Costa de ficar com todo o dinheiro do trabalho dos portugueses, em impostos. Retórica que teve, todavia, o seu grande momento de exaltação em André Ventura, que, de gráfico na mão, acusou o primeiro ministro de desproteger os salários dos portugueses para distribuir subsídios”, referindo-se ao desmantelamento de uma rede de imigração ilegal, nesta semana. Portugal – continuou o presidente do Chega – tornou-se a “casa de alterne da Europa”, sujeitando-se com esta tirada a uma chamada de atenção do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.
À esquerda, a líder da bancada comunista, Paula Santos, priorizou as “desigualdades, injustiças e exploração, o ataque aos direitos laborais e sindicais, a degradação dos serviços públicos, o baixo investimento público, as novas privatizações”, vincando o contraste entre “os lucros escandalosos dos grupos económicos e os cidadãos que não veem os salários e as pensões valorizados”, numa atitude critica da política de contas certas do Governo. E a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, focou-se na alegada falta de transparência do Executivo, que “normaliza a dança das cadeiras quando há suspeitas de corrupção em práticas reiteradas no Ministério da Defesa”, propondo a Costa que explique ao país “o que se passa no Ministério da Defesa e o que vai fazer”.