O ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, admitiu que o valor pago à antiga administradora Alexandra Reis, 500 mil euros, pela sua saída é “alto em qualquer país do mundo e em Portugal ainda mais”. Porém, o antigo governante realçou que a indemnização paga aconteceu numa empresa, na qual os salários dos administradores são altos e alguns dos trabalhadores ganham mais do que membros do conselho de administração. Mas, admitiu, foi um “processo que objetivamente correu mal”
Pedro Nuno Santos referiu que a sua intervenção no processo de saída de Alexandra Reis ocorreu em dois momentos: primeiro, dando autorização à então CEO Christine Widener para negociar a saída da administradora e, no final, aprovando o valor de 500 mil euros de indemnização.
“Era para mim fundamental, independentemente da opinião que eu tivesse sobre Alexandra Reis, ter uma Comissão Executiva coesa, coerente e na qual a ex-CEO se revia na totalidade dos seus membros”, justificou Pedro Nuno Santos para ter autorizado a ex-CEO a negociar a saída.
O ex-ministro fez questão, ainda, de declarar, no início da sua intervenção, que a sua audição na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP é a “mais difícil”, por envolver “temas desconfortáveis”. Ainda assim, afirmou que “ansiava” por este momento “há muito tempo”.
Na sua intervenção inicial, Pedro Nuno Santos fez questão de refutar uma tese que tem corrido na CPI sobre o seu modelo de gestão no ministério das Infraestruturas: “As decisões não foram tomadas por WhatsApp”, disse, precisando, mais à frente, que o “ok” que deu ao 500 mil euros de Alexandra Reis foi no “iMessage”, numa troca de mensagens com a sua chefe de gabinete e com o secretário de Estado Hugo Mendes.
Pedro Nuno Santos afirmou ainda que a sua demissão do governo “não foi pedida por ninguém”, mas sim de sua iniciativa, o que pode ser lido como uma farpa ao atual ministro João Galamba, cuja demissão foi pedida pelo Presidente da República, Marcelo rebelo de Sousa.
O antigo ministro, recorde-se, demitiu-se na sequência da indemnização paga à ex-administradora da TAP, que era secretária de Estado do Tesouro quando aquele pagamento, ao qual não teria direito, foi noticiado pelo Correio da Manhã, a 24 de dezembro de 2022.
Depois de ter dito que não foi informado da indemnização – e após a sua demissão – Pedro Nuno Santos esclareceu, em comunicado, que ele, o então secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes e a chefe de gabinete Maria Antónia Araújo “não tinham memória” de que sabiam da indemnização e que o ministro deu “anuência política para fechar o processo”.
Na audição da semana passada, o ex-governante assumiu que foram “meses de espera difíceis porque a vontade de reagir era muita”, mas adiantou que os temas que suscitaram a sua saída do governo teriam de esperar pela sua ida à comissão de inquérito à TAP.
Pedro Nuno Santos respondeu a questões sobre a reconfiguração acionista da TAP após a privatização de 2015, os chamados fundos Airbus, o auxílio de emergência à companhia aérea, em 2020, na sequência da pandemia de covid-19 e os 55 milhões de euros pagos a David Neeleman para ele sair da empresa.
O ex-ministro defendeu que se se confirmar a veracidade dos indícios apontados na auditoria ao negócio com a Airbus feito pelo ex-acionista privado da TAP David Neeleman, que apontam para a possibilidade de a companhia aérea estar a pagar acima do preço do mercado, tem de se “exigir que os contratos sejam revistos”.
Quanto aos 55 milhões pagos ao ex-acionista privado, Pedro Nuno Santos disse que corresponderam a um “ponto de encontro” entre as partes em desacordo, para evitar litigância.
Pedro Nuno Santos sublinhou ainda sentir “muito orgulho do trabalho” feito pelo Governo para “salvar a TAP”, tendo-se conseguido provar que a companhia aérea, enquanto “empresa pública, pode dar lucro”.
“Não foi um acaso, porque no ano em que conseguimos que a TAP desse lucro, também conseguimos que na primeira vez na sua história a CP desse lucro. Não há mais nenhum Governo, não há mais nenhum ministro que, nos últimos 50 anos, se possa gabar de ter deixado as suas funções com a TAP e a CP a dar lucro”, enfatizou.