Entre 2017 e 2023, a TAP pagou 9,3 milhões a 14 administradores que saíram da empresa. Destes, 13 cessaram funções no período entre 2019 e 2023, aquando do fim da gestão privada de David Neeleman e Humberto Pedrosa e o início da gestão pública, custando à companhia 8,5 milhões de euros.
Os números constam de uma auditoria da consultora “EY” e foram revelados, esta quarta-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito, pelos deputado Bernardo Blanco da Iniciativa Liberal. Confrontado com estes dados, Hugo Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas garantiu não ter tido conhecimento dos processos de saída, com a excepção de Alexandra Reis, a última administradora a sair com uma indemnização de 500 mil euros, entretanto declarada nula pela Inspecção geral de Finanças e devolvida, em parte, à empresa.
No que diz respeito a gastos, a segunda revelação da tarde de inquirição a Hugo Mendes pertenceu ao deputado comunista Bruno Dias, denunciando o pagamento de 40 milhões de euros pela TAP a duas consultoras desde 2015.
“O acervo desta Comissão tem um conjunto de documentos que confirmam uma antiga denúncia do PCP sobre o pagamento de consultorias pela TAP. Só a duas consultoras (Seabury e BCG) desde 2015, foram pagos 40 milhões de euros – quatro vezes mais do que o valor pelo qual a TAP foi vendida à Atlantic Gateway em 2015”, lê-se num requerimento entregue pelo grupo parlamentar comunista e anunciado pelo deputado Bruno Dias, na comissão de inquérito à companhia aérea.
O PCP considera que “as dúvidas sobre o recurso a consultoria pela TAP adensam-se” e é, assim, “necessário que se clarifique se o beneficiário destes serviços foi efetivamente a TAP e que serviços foram estes”.
Desta forma, o grupo parlamentar pediu à TAP e ao Ministério das Finanças toda a documentação relativa a faturas que tenham eventualmente sido remetidas à companhia aérea pelo ex-acionista David Neeleman ou pelas suas empresas (incluindo DGN), ou pela Atlantic Gateway, referentes a serviços de assessoria prestados a David Neeleman ou suas empresas.
O ato de contrição de Hugo Mendes
Durante a audição desta quarta-feira, Hugo Mendes penalizou-se pelo envio de um email à ex-CEO da TAP, Christine Widener, em resposta a um pedido sobre uma alteração e um voo de Marcelo Rebelo de Sousa, no qual afirmou ser importante manter o apoio político de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que era o “principal aliado” do Governo mas que poderia tornar-se o “pior pesadelo”.
“Penalizo-me pelo comentário que partilhei com ex-CEO sobre o senhor Presidente da República, embora quisesse tão só sinalizar junto de alguém com quem tinha uma relação profissional de confiança o apoio que o senhor Presidente da República deu à difícil decisão de resgatar a TAP”, disse Hugo Mendes na sua intervenção inicial na comissão de inquérito à TAP a propósito de um email sobre a alteração da data de um voo de Marcelo Rebelo de Sousa.
Reconhecendo que “não devia ter emitido nem partilhado aquela opinião tanto no seu conteúdo como na sua forma”, o antigo governante garantiu que não partiu dele “a iniciativa de pedir nada” e que foi o “destinatário de um email” que a ex-CEO endereçou a “expressar uma dúvida”.
“Limitei-me a partilhar uma opinião. Foi sem dúvida infeliz, mas eu não dei nenhuma instrução”, assegurou.