Não consta que Emmanuel Macron, o Presidente francês, tenha quaisquer dotes culinários. No entanto, ele nem sempre resiste à tentação de ironizar ou ser politicamente incorreto quando é confrontado com as vaias e os protestos com tampas e tachos, que o perseguem agora por todo o lado, devido aos seus métodos de exercício do poder e à polémica reforma das pensões: “Se as pessoas estão prontas a falar… Se for só pelos ovos e pelas caçarolas, posso ficar em casa a cozinhar.” O comentário saiu-lhe na passada semana, em Ganges, perto de Montpellier, no Sul do país, num encontro com professores e estudantes, onde anunciou um aumento de 100 a 230 euros líquidos para a classe docente. No exterior da escola, centenas de pessoas insultavam o governante e recorriam a artefactos pirotécnicos porque a autarquia local interditou os “dispositivos sonoros” que perturbassem o acolhimento à comitiva presidencial. É por esta e por outras manifestações que ocorrem em todos os lugares por onde passa o Chefe de Estado e os ministros que França vive um momento particularmente delicado. No último sábado, 22, a justiça anunciou que estão em curso investigações por atos de sabotagem e de vandalismo – sobretudo cortes de eletricidade, entretanto reivindicados por sindicalistas – e três pessoas na região da Alsácia serão julgadas ainda neste verão por terem exibido os dedos do meio e dirigido impropérios a Macron.
No final de março, o rei de Inglaterra, Carlos III, cancelou à última hora a sua visita oficial a Paris e a terras gaulesas, com o mesmo a acontecer com o líder máximo da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, que deveria deslocar-se à Cidade Luz a 2 e 3 de maio. Do ponto de vista oficial, ninguém admite que estas suspensões se devam a problemas de segurança ou de perturbação da ordem pública, mas os desencontros entre os governantes e os governados no país com forma hexagonal são evidentes e têm consequências. Emmanuel Macron conhece uma das taxas de popularidade mais baixas desde que, em maio de 2017, aos 39 anos, se tornou o mais jovem Presidente da República francesa (ver infografia). E crescem os sinais de que a situação pode agravar-se.
Em 2019, Brigitte Macron, a mulher do Presidente, terá sido fundamental para o Eliseu recuar na legislação que desencadeou os protestos dos Coletes Amarelos. Fará agora o mesmo com a reforma das pensões?