A ministra da Agricultura revelou, esta quarta-feira, no Parlamento, que soube pela boca da ex-secretária de Estado Carla Alves que o marido desta, o ex-autarca de Vinhais, Américo Pereira, estava envolvido num processo judicial. Apesar de este tipo de caso ser agora uma das limitações que constam no mecanismo de 36 perguntas criado pelo Governo, Maria do Céu Antunes não considerou haver qualquer problema nesse facto e achou que o currículo da então diretora regional lhe bastou para a nomeação.
E já após ser pública a conta arrestada de Carla Alves e do marido, por não terem conseguido justificar a proveniência de milhares de euros e por os valores sinalizados pelo casal não coincidirem com os depósitos realizados, a então secretária de Estado, confrontada pelo gabinete de António Costa e Maria do Céu Antunes, assegurou que todos os montantes estavam declarados.
Numa audição parlamentar sobre este caso, em que a deputada Berta Nunes (presidente da federação de Bragança do PS) e o deputado do Chega Pedro Frazão quase criaram um incidente, a ministra da Agricultura pôs as mãos no fogo pela escolha de Carla Alves, ao sublinhar que o “currículo garantia a continuidade das políticas” da tutela para o setor e que só após as notícias é que soube do arresto de contas.
Confrontada pelos deputados do PSD, Chega e Iniciativa Liberal, a governante disse que, aquando do convite para o Governo, perguntou a Carla Alves “se tinha condições para assegurar o cargo”, principalmente a nível logístico.
“Questionei se tinha algum processo, ao qual a senhora engenheira me deu conta que não tinha nenhum processo. Que havia um processo, sim, que envolvia o marido, do seu tempo de autarca, mas que não tinha implicações com ela própria”, explicou Maria do Céu Antunes, que ainda não deixou de se assumir surpreendida com a notícia do Correio da Manhã, publicada no dia 5 de janeiro e para a qual o Ministério da Agricultura só foi confrontado com tais factos após a tomada de posse em Belém – que ocorreu pelas 18 horas, de 4 de janeiro.
Segundo a ministra, “nessa noite, depois da tomada de posse, fomos confrontados pelo órgão de comunicação social, que falava sobre o processo do marido e das contas arrestadas do marido”. “Perguntámos mais uma vez e o que nos foi dito é que é um processo do marido e soubemos então que havia uma conta conjunta, onde o casal depositava os seus vencimentos, e que essa conta tinha tudo declarado. Foi com base nessa informação que ficámos a aguardar”, explicou na comissão, frisando que “essa informação não foi tida em conta por esse órgão de comunicação social [de que Carla Alves não era arguida em nenhum processo e que a sua conta conjunta com o marido tinha valores declarados]”.
“Na quinta-feira, fomos surpreendidos com a informação que saiu no Correio da Manhã. Imediatamente me dirigi à secretária de Estado, assim como membros do meu gabinete, para tentar perceber. Não pude acompanhar toda a conversa, porque era dia de Conselho de Ministros. O meu gabinete e o gabinete do primeiro-ministro estiveram com a própria – e o que chegámos à conclusão, pela informação que nos estava a ser dada, de facto há um processo que é do marido, sobre as suas funções de autarca, que é acusado, mas quem teve acesso a toda a informação, que foi o Ministério Público não acusou a secretária Estado. E mais: a conta foi arrestada porque era conjunta. Em momento nenhum foi arguida ou acusada“, acrescentou Maria do Céu Antunes, defendendo que as consequências políticas deste caso foram o pedido de demissão de Carla Alves – a quem o presidente da República puxou o tapete ao final da tarde dessa quinta-feira, provocando esse desfecho, quando declarou que os factos em causa tinham “um peso político” negativo.
“A avaliação política foi feita pela própria, porque entendeu que não tinha condições políticas e pessoais para continuar no cargo”, conclui a ministra, ao frisar que só conheceu a existência “de uma conta arrestada já depois da tomada de posse” e pela comunicação social.