Após um ano de vereação na capital, onde tinha os pelouros da Saúde, Juventude e dos Direitos Humanos e Sociais, entre outros, Laurinda Alves foi forçada a abandonar o projeto político da coligação de direita, liderada por Carlos Moedas, por ser vítima de uma “Covid longa e insidiosa”, como a própria adiantou à VISÃO.
A renúncia ao cargo, anunciada no início desta semana, apesar de justificada com “motivos de doença”, foi vista por alguns como consequência política de algumas polémicas em que o seu nome esteve envolvido, desde há alguns meses. Porém, a explicação oficial dada pelo município não poderia ser a mais fiel sobre o real estado de saúde da conhecida jornalista, que, além de ter atravessado um grande período de infeção por Covid-19, sofre agora os efeitos prolongados da doença – onde se contam, entre outros sintomas, o cansaço constante e as dificuldades em falar e até de locomoção.
“Agora o imperativo médico, perante as sequelas, é parar por um tempo demorado, também longo, de recuperação total”, diz Laurinda Alves
“‘Parar’ é um verbo impossível de conjugar com a missão na Câmara Municipal de Lisboa. Daí o imperativo da minha renúncia. A vida impõe-se. E quando a vida se impõe desta maneira, não vale a pena resistir. Há que aceitar”, lamentou Laurinda Alves, que entrou na Executivo de Carlos Moedas indicada pelo CDS-PP – daí que para o seu lugar vá a autarca centrista Sofia Athayde.
De acordo com a ex-vereadora, a doença começou por se ir manifestando através de “sintomas agravados semana após semana, ao longo de 4 semanas”, ainda que com “testes no Serviço Nacional de Saúde sempre negativos, os tais ‘falsos negativos’”, até que “uma ida às urgências do hospital agravou também a infeção viral”. “Ou seja acabei por ser internada uma semana no serviço de pneumologia, isolada, para reverter tudo isto”, revelou à VISÃO.
Ainda assim, além de a situação clínica “se ter agravado tanto”, o que se seguiu também não foi melhor. “Agora o imperativo médico, perante as sequelas, é parar por um tempo demorado, também longo, de recuperação total”, conclui.
As sequelas invisíveis da “Covid longa” têm sido reportadas por muitos que estiveram infetados pelo coronavírus, detetado pela primeira vez na China e que chegou a Portugal em março de 2020. A atriz norte-americana Gwyneth Paltrow foi uma das primeiras figuras públicas a revelar a sua luta contra os efeitos prolongados do pós-Covid-19, reportando sintomas intensos de cansaço e fadiga mental.
Para as autoridades de saúde, o impacto do Sars-CoV-2 também se reflete em doentes que ultrapassaram a doença e que começam a reportar sintomas, como os descritos por Laurinda Alves, nos dois meses seguintes.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde atualizou, em março deste ano, uma circular sobre a “Condição pós-Covid”, reconhecendo a fadiga, a dispneia / dificuldade respiratória sem outra causa atribuível, as alterações do olfato, as alterações do paladar, a depressão, a ansiedade e a disfunção cognitiva como alguns dos sintomas de tal estado. Leia aqui.