Há 35 anos, em pleno cavaquismo absoluto, os Xutos & Pontapés gritaram Sai Prá Rua. Deixar o rebanho, parar de pastar e esquecer o conforto do lar era o desafio da canção. “Tens de tomar posição”, repetia-se. À época, o número de sindicatos era inferior aos 337 da atualidade, mas a mobilização assustava. Agora a música é outra: embora a representatividade sindical e patronal se mantenha opaca, a realidade já não pode ser maquilhada: “O grau de sindicalização é baixo, provavelmente 15% ou menos”, assinala à VISÃO Henrique Sousa, coordenador da associação Práxis – Trabalho e Sindicalismo. Haverá cerca de 600 mil sindicalizados no ativo, num universo de pouco mais de quatro milhões de trabalhadores. “A isso soma-se a falta de democracia e o incumprimento patronal de direitos nos locais de trabalho, onde a representação organizada é também das mais baixas da Europa.”
As manifestações convocadas pela CGTP para 15 de outubro, em Lisboa e no Porto serão o primeiro teste ao “poder de fogo” da rua contra o Governo. Ocorre após o longo “túnel” da pandemia e num quadro de encruzilhada para as lutas laborais. Força liderante do movimento sindical, o PCP está reduzido à versão eleitoral e parlamentar mais precária de sempre: 4,3%, seis deputados. Para enfrentar um Governo socialista em modo mãos-livres, beneficiário da hecatombe à sua esquerda na ressaca da Geringonça, Jerónimo de Sousa junta um paliativo à contestação: a memória de elefante. Em entrevista à Rádio Renascença e ao Público, o secretário-geral comunista lembrou que outras maiorias, incluindo do PS, não resistiram a processos de “implosão”.