O diagnóstico à permanência de Marta Temido no número 9 da Avenida João Crisóstomo, sede do Ministério da Saúde (MS), em Lisboa, já vinha sendo traçado há algum tempo. E não era positivo. Mas a governante, que chegou a mostrar vontade de sair do executivo, pela primeira vez, ainda durante o pico da pandemia, foi mostrando capacidade de contrariar as probabilidades, graças à ajuda de António Costa, que a manteve em três governos do PS. Com a morte de uma grávida, devido a paragem cardiorrespiratória, o que veio expor as fragilidades da resposta no Serviço Nacional de Saúde (SNS) – por estar em causa a capacidade do maior hospital do País –, a ministra não terá esperado sequer por uma explicação técnica mais aprofundada dos clínicos envolvidos no caso: pediu a demissão a um primeiro-ministro que foi surpreendido pela decisão – até pela hora a que lhe foi comunicada.
Quando o caos parece ter tomado conta do setor, a mal sucedida viagem de transferência daquela grávida do Santa Maria, com os serviços de neonatologia a rebentar pelas costuras, para o Hospital de São Francisco Xavier, foi, assim, a “gota de água” que fez transbordar a paciência da ministra, que esteve quase 1 500 dias à frente de uma das pastas mais difíceis. A VISÃO apurou, junto de fontes ligadas ao gabinete do MS, que qualquer que fosse o incidente que surgisse, a decisão de abandonar o barco estava iminente, tendo em conta que Marta Temido andaria fortemente insatisfeita com duas coisas. Primeiro, com um esboço orçamental para a área que ainda vai tutelar por mais uns dias, que lhe fizera chegar o ministro das Finanças, Fernando Medina – o mesmo que, quando começou a crise nas urgências obstetrícias, fez questão de notar que à ministra não faltava dinheiro para fazer mais e melhor.