Horas depois de ter aceitado e comunicado o pedido de demissão da ministra da Saúde, António Costa explicou aos jornalistas, em conferência de imprensa, que não estava à espera que Marta Temido desse este passo, na noite passada. No entanto, entendeu as razões evocadas pela governante que já antes tinha manifestado intenção de deixar a pasta. Desta vez, o primeiro ministro admitiu que não teve como “rejeitar o pedido” de Temido, mas, tendo em conta a sua agenda para os próximos cinco dias, não irá fazer uma substituição imediata.
Questionado sobre as razões que levaram Marta Temido a demitir-se, o chefe do Governo aceitou relacionar o pedido para abandonar o cargo com a morte de uma grávida transferida, na semana passada, do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para o Francisco Xavier, que viria a falecer no caminho entre estas duas instituições. “Percebo que alguém estabeleça como uma linha vermelha a existência de falecimentos num processo que aconteceu em serviços da sua tutela. Acredito que tenha sido uma gota de água”, disse Costa, esta tarde, aproveitando para agradecer mais uma vez todo o trabalho da ministra que ficará sempre ligada à gestão “de uma situação única”, a pandemia de Covid-19.
“Ser membro do Governo é muito exigente e há pastas que são particularmente desgastantes do ponto de pista pessoal, emocional”, continuou o primeiro-ministro, que se recusou a deixar alguma pista sobre quem se segue na Saúde.
António Costa explicou que nas próximas 24 horas estará concentrado na aprovação do diploma sobre as medidas de apoio ao rendimento das famílias mais carenciadas e que depois se seguem quatro dias de deslocação a Moçambique. “Só depois me poderei concentrar nesta questão”, apontou, denotando, todavia, que a sua vontade seria que Temido ficasse até estar concluída a aprovação da equipa da nova direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (prevista para o Conselho de Ministros de 15 de setembro), evitando que o sucessor de Temido caísse de “paraquedas” no assunto.
Se isto não for possível, Costa descansa que a alteração de ministro não terá um impacto ao nível da política de saúde seguida por este Governo. “As mudanças de membros do Governo são mudanças de personalidade, de energia, de estimulo”, “quem quer mudanças políticas terá de derrubar o Governo”, disse ainda o primeiro-ministro, rejeitando qualquer possibilidade de ir aproveitar esta demissão para fazer uma remodelação governamental.
Marta Temido chegou ao ministério da Saúde por volta das 9:00 e mantém-se em silêncio sobre o pedido de demissão.