Foi a 30 de novembro que a consultora de negócios e gestão Splitworld perdeu a paciência com o Chega e decidiu avançar com uma ação de injunção nos tribunais. A empresa, propriedade de Fernando Miguel do Couto, militante do partido, ex-dirigente em Oeiras e candidato suplente no concelho nas últimas autárquicas, reclama uma dívida de cerca de 37,5 mil euros por serviços prestados àquela força política – sobretudo na área informática e produção de conteúdos – durante a campanha eleitoral no município. “Temos a documentação toda, a troca de e-mails e houve até uma sessão pública organizada pelo Chega, a 22 de maio do ano passado, com a presença de militantes, para apresentar o trabalho. Os dirigentes locais e nacionais apropriaram-se do que fizemos, usaram os materiais e agora não querem pagar”, afirma à VISÃO este major da Força Aérea na reforma.
O sócio-gerente da Splitworld acusa Rui Paulo Sousa (presidente da Comissão de Ética, mandatário financeiro nacional e segundo na lista encabeçada por André Ventura nas legislativas em Lisboa), o líder da distrital Pedro Pessanha (número quatro na mesma candidatura) e o responsável pelo núcleo de Oeiras, Francisco O ´Neill de ignorarem “de forma ostensiva” os contactos para evitar o recurso aos tribunais. “É esta a imagem pública que o partido quer dar? É este tipo de figuras que vamos eleger como deputados?”, questiona Fernando Couto. “O André Ventura está rodeado de gente de má-fé. Agora quer levá-la para o Parlamento, mas já não será com o meu voto”, assinala o ainda militante, mas a caminho de abandonar o Chega. “Concordo com várias posições do partido, acreditei que o presidente ia combater este tipo de comportamentos e moralizar a vida política, mas não é isso que acontece. Este tipo de figuras não tem escrúpulos e só prejudica o Chega. Recorri aos tribunais porque me cansei de esperar e já enviei uma exposição à Entidade de Contas do Tribunal Constitucional para não haver dúvidas em relação ao que eles possam estar a tramar”, argumenta.
Chega nega dívida
Para o partido este é, pelos vistos, um não assunto.
O Chega nega a existência de qualquer contrato com a referida empresa e garante jamais ter solicitado os serviços prestados. “Quando vi a fatura, nem sabia do que se tratava”, garante, à VISÃO, Rui Paulo Sousa. “Contactei os líderes do núcleo de Oeiras e da distrital de Lisboa e eles garantiram que não tinha sido formalizado qualquer contrato com a empresa nem dada autorização para o mesmo, muito menos por aqueles valores absurdos. Pedimos provas de que o Chega solicitou o serviço e os materiais, mas a empresa nunca nos enviou nada”.
O dirigente nacional garante que, “precisamente para evitar situações deste tipo”, decidiu centralizar as contas das campanhas eleitorais. “Nenhuma despesa pode ser efetuada sem autorização da direção”, assegura. Entretanto, diz, o partido já contestou a ação judicial, juntou testemunhas e avançou com uma queixa-crime “por falsificação de faturas”.
Do outro lado da linha telefónica, Fernando Couto ironiza: “Quem tem contas em ordem e trabalha de forma séria não pode ter medo. Os documentos falam por si, até já pagámos o IVA deste trabalho e o nosso advogado não tem notícia de qualquer queixa-crime do partido”, assegura o dono da Splitworld. “Sé este o retrato que o Chega quer dar ao País é um problema dos seus dirigentes. A dívida existe e vão ter de pagá-la. Temos a folha limpa e vamos continuar a ter”.