“A maçonaria tem de voltar a ser um ator social de relevo”. O alerta consta de um documento interno que circula no Grande Oriente Lusitano (GOL), com o programa de candidatura a grão-mestre do maçon e consultor Fernando Cabecinha, 67 anos. É um dos três candidatos à liderança da mais antiga obediência do País, numas eleições que se realizam dia 30 de outubro e que vão escolher o sucessor de Fernando Lima que ocupa o cargo desde 2011. No mesmo documento, Cabecinha, que já presidiu quatro vezes ao parlamento maçónico, um importante órgão da obediência, garante que é preciso, por isso, “ aprimorar a qualidade da seleção dos candidatos”.
A campanha já está em curso, conta com três listas e nos vários programas de candidatura, a que a VISÃO teve acesso, é visível a preocupação de se tornar a dar ao GOL um papel de destaque. Aliás, no programa de um outro candidato, Carlos Vasconcelos, um advogado de 43 anos, assume-se a má imagem que a obediência tem hoje em dia, referindo-se que apesar “do património histórico da maçonaria, uma parte significativa da sociedade portuguesa perceciona com reservas e até com negatividade a maçonaria em geral e o Grande Oriente em particular”. Por isso, Carlos Vasconcelos e os seus dois adjuntos, Natal Marques, presidente da EMEL, e António Ventura, professor catedrático consideram ser “ imperioso rever” o relacionamento dos maçons com a sociedade para que esta “compreenda a atualidade dos valores” maçónicos e “tenha consciência” do papel dos maçons.
“O presente e o futuro chamam-nos e convocam-nos, tal como sempre fizeram aos nossos Maiores, e temos estado ausentes porque fechados sobre nós próprios”, argumenta por seu lado, Luís Parreirão, 62 anos, maçon, socialista e antigo Secretário de Estado da Administração Interna, no documento onde explica o seu curriculo e dos seus candidatos a adjuntos: Américo Figueiredo, diretor do Serviço de Dermatologia e Venereologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – Polo Hospitais da Universidade de Coimbra e António Graça, advogado.
Outra das preocupações dos maçons diz respeito ao segredo maçónico, e à lei que obriga os titulares de cargos públicos a assumirem caso sejam membros da maconaria. Carlos Vasconcelos é claro no texto que enviou aos “irmãos”do GOL: “Proibir o segredo maçónico” é “proibir a maçonaria”, alega. Segundo explica, “a sociedade não entende o segredo e encara-o como uma forma de manter uma “rede de interesses. Além disso, considera “inamissível” as “investidas para obrigar a revelação publica da filiação maçónica” e garante que há três implicações do segredo que têm de ser mantidas: “o segredo sobre a iniciação, os ritos e os símbolos, o dever de sigilo em relação a outros maçons e o direito de cada maçon se identificar ou não como maçon”.
Já Fernando Cabecinha e os seus dois candidatos a adjuntos, João Nuno Aurélio Marcos, advogado, e Carlos Rocha Nunes, sócio de uma consultora britânica, lembram que é muito importante criar “sistemas de informação e de segurança – acautelando as melhores práticas no plano da Cibersegurança– que permitam minimizar os riscos de intrusão”.
Em todos os programas surge a ideia de que os maçons do GOL não se podem isolar. “O presente e o futuro chamam-nos e convocam-nos, tal como sempre fizeram aos nossos Maiores, e temos estado ausentes porque fechados sobre nós próprios”, avisa Luís Parreirão.